Portugal, país pobre
A menos que se descubra petróleo ou gás natural na plataforma marítima
nacional, o nosso território será sempre pobre de recursos materiais, incapaz
de se autosustentar e, agora, por força dos endividamentos externos, não
atrairá grandes investimentos financeiros que permitam uma reviravolta
económica significativa. Teremos de viver abaixo da suficiência. Ora, isto quer
dizer que terá de haver uma retracção nos gastos que os empréstimos sustentaram
nos últimos doze anos. Essa retracção vai fazer-se sentir, em primeiro lugar,
em todos os serviços dependentes do orçamento estatal: saúde, justiça,
educação, segurança, administração interna, segurança social, administração
pública, autarquias, fundações, institutos, parcerias e tantas outras formas de
ligação do Estado à Nação.
Como o crescimento económico depende do investimento, a não ser que haja
um novo “plano Marshall” gerado algures no estrangeiro, não se prevê que
Portugal, por força da razão acima invocada, possa oferecer condições especiais
para uma nova entrada de capitais. Desta forma, o futuro representará uma
regressão nos padrões de vida a que o cidadão médio estava habituado; o
consumismo estará só disponível para alguns estratos sociais e o crédito será
caro e difícil de obter. O novo modelo de vida passará por uma redefinição da
classe média e dos objectivos da mesma, bem como por um novo tipo de
funcionalismo público e autárquico, ao mesmo tempo que se terão de
redireccionar os programas de ensino secundário, técnico e superior à luz de
novas realidades sociais e económicas — os conceitos de escolaridade sofrerão,
necessariamente, ajustamentos como consequência da viragem política que for
feita, pois dependerão, mais do que nunca, de se viver numa sociedade
liberalizante ou socializante, o mesmo acontecendo aos programas de saúde
pública.
O tempo da abundância aparente acabou, porque cada um terá de viver com
os rendimentos que for capaz de gerar, tendo em conta que o Estado será,
indubitavelmente, um Estado “remediado” com clara tendência para a “pobreza”.
Os próximos anos vão ser tempos de ajustamento a novas realidades, a novos
padrões e, por conseguinte, a novos comportamentos sociais.
Não me chamem, por favor, profeta de desgraças, pessimista ou “Velho do
Restelo”, por me limitar a antecipar um cenário ditado pelo realismo de uma
visão estribada nos resultados eleitorais dos últimos trinta e oito anos, pois
só uma brusca viragem à esquerda na tendência de voto poderia alterar o quadro
que vos tracei. Essa viragem, como o demonstra a prática das urnas, jamais se
verificará e, assim sendo, jamais haverá uma ruptura que desregule o
comportamento tido como normal do eleitorado português. O comportamento
político liberalizante ou socializante dependerá, isso sim, de uma redução ou
de um aumento na votação à esquerda do partido socialista, pois os sectores
políticos que nessa área se situam constituirão o “tempero” que regula a
actividade dos restantes.