05.03.10
O deficit e o patromónio nacional
Luís Alves de Fraga
Ouvi ontem, com grande espanto meu, uma proposta de dois deputados alemães sobre a forma de o Governo grego resolver a grave crise que está a atravessar aquele Estado membro da União Europeia: vender uma ou duas das ilhas do seu território, vender obras de arte da antiguidade e vender peças museológicas. Quer dizer, na impossibilidade de espremer até ao tutano os trabalhadores gregos, o Estado deve desfazer-se de património nacional, e, até, de património que se pode considerar da humanidade para garantir a sobrevivência num mundo onde imperam os interesses financeiros e onde os Governos gregos não souberam acautelar-se contra a ganância de lucro e despesismo que a União Europeia introduziu nos hábitos dos povos mais pobres e menos capazes de emparceirar com os ricos do continente.
Foi a ilusão de riqueza e abundância que a adesão à União Europeia desencadeou quem veio provocar desequilíbrios nos hábitos modestos de povos que estavam acostumados à míngua e ao fraco consumo. Claro que não estou contra o progresso! Estou contra uma falsa abundância que o mau governo de certos Estados que aderiram à, então, CEE incutiram nos seus cidadãos. Estou contra a incapacidade de gestão estratégica que esses mesmos governos demonstraram quando lhes foi dada a oportunidade de mudar rumos económicos. Estou contra os condicionalismos impostos pela CEE sobre economias de fracas capacidades, os quais rebentaram com o que era tradicional produzir e não acautelaram a transição para um mercado mais amplo, mais aberto e mais concorrencial.
Hoje é em relação à Grécia que se fazem sugestões como as dos dois deputados alemães; amanhã poderá ser o recado dirigido a Portugal e aos Portugueses. Sugiro que se vá pensando no processo de transferir para mãos particulares as Berlengas, as Desertas e — quem sabe? — o recheio do museu de Arte Antiga…