20.04.09
Novembro em Abril
Luís Alves de Fraga
Cada vez está mais distante o dia 25 de Abril de 1974…
Já se perde na memória dos mais velhos esse dia de perigo — perigo, porque poder-se-ia saldar tudo num banho de sangue — e de alegria — alegria, porque se conquistou a liberdade que, naturalmente, conduziu à democracia.
Já se perde na falta de memória dos mais novos esse dia extraordinário da História recente de Portugal, porque a data diz-lhes pouco ou mesmo nada… Foi o dia do fim da ditadura, mas eles não fazem ideia do que tenha sido ou do que seja uma ditadura! É um feriado igual a tantos outros!
Este ano vai comemorar-se mais um aniversário do 25 de Abril. O Povo aproveita para demonstrar o seu desgosto contra as medidas do Governo, contra a crise e a incapacidade que houve de a prever, de a remediar; o Povo manifesta-se não na alegria de Abril, mas na tristeza dos maus tempos que estão a instalar-se com força nos nossos lares.
E o Governo o que faz?
O Governo — na expressão banalizada por José Sócrates — «dá sinais» sobre Abril e diz que Abril não pode ser, porque houve um 25 de Novembro e que o 25 de Novembro manda mais do que o 25 de Abril. Um 25 de Novembro que, ao contrário do que dizem muitos pouco informados, foi o golpe da democracia contra a extrema-esquerda e não contra os comunistas… Mas que a extrema-direita queria que fosse contra o Partido Comunista. Foi o golpe da democracia com golpistas de ultra direita infiltrados para rebentarem com a verdadeira democracia que Ernesto Melo Antunes defendeu não deixando que a caça às bruxas se fizesse como desejavam as alas mais radicais de um certo MFA. Um certo MFA que ainda sobrevive e ajuda a que se veja a face desse rancor anti-comunista que fez o golpe de 25 de Novembro sem perceber a diferença entre comunismo, extrema-esquerda e oportunismo — porque milita hoje no PS e no PSD gente que, agarrando a oportunidade, nesses tempos recuados de 1975, incendiava os ânimos sendo mais comunista do que os comunistas do PCP.
Melo Antunes tinha consciência desse fenómeno e da verdade dos factos. Uma verdade que se limitava a uma certeza insofismável: o Partido Comunista desejava a democracia, mas não queria tomar o poder, nem queria transformar Portugal na Cuba da Europa. Não queria nem nunca quis, porque sabia a impossibilidade real desse plano. Mas queria garantir que os recuos da democracia não se fizessem, que as conquistas alcançadas no PREC não se perdessem, como, de facto, lentamente se foram perdendo e se estão ainda a perder.
A promoção do coronel Jaime Neves a major-general, para além de um prémio que não se compreende, é, do ponto de vista político, um aviso à esquerda mandado dar pelo Governo: o 25 de Novembro ainda não se cumpriu e que ninguém tente alterar a ordem de uma democracia que tem vindo a escorregar, cada vez mais, para a direita!
Tal como Melo Antunes eu também não sou comunista, mas sei que o PCP é fundamental ao processo democrático, que a esquerda consciente é preciosa para evitar os descarados desmandos da direita arrogante e exploradora; subversivamente arrogante e maliciosamente exploradora. É por esta razão que, neste ano, temos Novembro em Abril.