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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

30.11.06

A carta e o CEMGFA ou a hora da despedida


Luís Alves de Fraga

 

 

O texto seguinte, que já foi lido não imagino por quantas pessoas, peca por um gravíssimo erro que não posso deixar de colocar em destaque: parti do princípio que se tratava de uma carta e, ainda por cima, da exclusiva autoria do almirante Mendes Cabeçadas. Não é assim, tal como a AOFA (Associação de Oficiais das Forças Armadas) vem esclarecer.

 

Transcrevo parte do comunicado daquela Associação:

 

«Os meios de comunicação social deram ontem ampla divulgação à posição do Conselho de Chefes de Estado-Maior (CCEM), assumida na reunião de 26 de Outubro passado e transmitida ao Ministro da Defesa Nacional (MDN) em memorando assinado pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), em que se afirma que “a recente tendência de igualização dos militares a funcionários civis contribuirá necessariamente para que sejam minados os fundamentos éticos dos deveres militares”.

Antes de mais, não pode deixar de se saudar a posição do CCEM, uma vez que ela indicia claramente estarem os Chefes Militares em convergência com as enormes preocupações que a AOFA, há mais de um ano, vem, repetidamente, trazendo a público, solicitando ao MDN, em simultâneo, a urgente resolução dos problemas que lhes estão subjacentes.»

 

Fica a emenda com o meu pedido de desculpas ao almirante Mendes Cabeçadas por ter tecido considerações sobre matéria que julguei da sua exclusiva responsabilidade quando, afinal foi da responsabilidade do colectivo ao qual ele preside. Honra seja feita aos Chefes militares.

Apresento, também, o meu pedido de desculpas a todos os leitores a quem poderei ter induzido em erro e em mau julgamento.

 

Pelo facto de ter errado, acho que não devo esconder a matéria do meu erro, pelo contrário, fica exposta, mas antecedida do esclarecimento que acima deixo. Tentarei ser mais cauteloso nas futuras tomadas de posição.

 

O general GEMGFA (Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas) — almirante Mendes Cabeçadas — está de despedida. Acaba brevemente o seu mandato.

 

Se alguma coisa ressalta, para a opinião pública militar, da actividade deste almirante enquanto CEMGFA, é a ideia de grande capacidade de concordância com os diferentes Governos com quem serviu. Um homem a procurar uma boa relação com o Poder Político e uma indiferente relação com as Forças Armadas. Afinal, já há muito que se diz: «Mal com o Povo por amor d’El-Rei; mal com El Rei por amor do Povo». Parece que o senhor almirante terá escolhido a primeira parte do aforismo! Contudo — há sempre um “contudo” que salva muita gente — antes de abandonar o cargo, eis que escreveu ao ministro da Defesa Nacional uma carta. São as cartas redentoras!

 

Escreveu e disse o que já deveria ter dito há mais de um ano. Mas deveria tê-lo dito de maneira a que nós, a rua, ouvissemos tal como ouvimos agora. E agora ouvimos, porque o senhor almirante fez por isso. E porquê?

 

Por causa da tal carta redentora de todos os pecadilhos por omissão que terá cometido nos últimos anos, o almirante Mendes Cabeçadas parece entrar na inactividade de serviço tranquilo com a sua consciência.

 

Na minha opinião não é bem assim. Poderia e deveria, muitíssimo mais cedo, ter usado de toda a sua força moral para «jogar» duro junto do Governo, chegando até às últimas consequências, isto é, ao pedido de demissão do alto cargo que ocupou. Não o fez por razões que não me vai explicar nem aos militares deste país. Limita-se a deixar, na última hora de desempenho de funções, a impressão de que, afinal, terá, em tempo devido, apontado aos governantes os maus caminhos que percorriam. Mas, estranhamente, o almirante Mendes Cabeçadas vai um pouco mais longe na «jogada» tardia que deixou transparecer para a opinião do grande público militar e civil. Vai mais longe, porque «encrava» o novo CEMGFA. Com efeito, o general Valença Pinto — que passa de CEME para o Restelo — ou dá continuidade à atitude do seu antecessor ou se cala e nada deixa transparecer para fora do seu gabinete e, nestas circunstâncias, oferece de si mesmo uma imagem de cautela excessiva e de desinteresse pelo futuro das Forças Armadas. Excelente armadilha colocada no caminho de quem começa!

 

Cá estaremos para ver como o novo CEMGFA reage. Garantida já tem a indisposição de todos os militares no activo e a revolta dos da reserva e reforma.

24.11.06

Militares e Jornalistas


Luís Alves de Fraga

Ontem, ao fazer um zapping televisivo passei pela SIC – Notícias e dei com o apresentador do telejornal das 21 horas a entrevistar a jornalista Maria Antónia Pala. O tema da conversa era a integração do subsistema de saúde dos profissionais do ramo na Previdência Social.

 

Confesso que, há muitos anos, não via um espectáculo tão deprimente! Estrebuchava argumentativamente, por um lado, o entrevistador e por outro a entrevistada. Esta gaguejava, expunha entrecortado o pensamento, consciente da falta de razão que lhe assistia. Ambos queriam convencer-nos dos seus motivos escalavrados, das suas certezas prenhes de incertezas.

 

Entre outros argumentos deixados cair ao acaso, lá veio o da falta de horário e da forte pressão psicológica sob que vivem e trabalham os jornalistas; lá veio, também, o pequeno número que constitui a classe e as admissões, no meio, de indivíduos que, efectivamente, não são jornalistas.

 

Deixei-me sorrir. Cheguei mesmo a rir.

 

E ri porque há um ano atrás, quando a assistência na doença aos militares e suas famílias desabou por vontade do Governo socialista, depois de ter sido construída, no tempo do Estado Novo, pelo presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, os jornalistas, ao invés de esclarecerem os leitores e ouvintes sobre a incorrecta atitude do Executivo para com um grupo sócio-profissional que, esse sim, não tem estatuto laboral e dá a vida, se necessário for, pelo magro pagamento que o Estado lhe quer atribuir, deixaram passar a ideia de que vivíamos na abundância e éramos uma classe privilegiada. Esqueceram-se que, mais tarde ou mais cedo, também lhes iria tocar pela porta igual destino! Agora, aqui del-rei quem nos acode, porque somos um grupo profissional sujeitos a alto risco e grande desgaste! Não dá vontade de rir?

 

Não sou dos que se comprazem com o mal dos outros, mas, neste caso, tudo o que servir para mostrar como os militares foram mal tratados há um ano, perante o silêncio conivente da sociedade — quando não até a verborreia de alguns — é bem-vindo. Foi esse silêncio, essas palmas maldosas, que ajudaram a dar força a um Governo que ainda tem muito trabalho para fazer se quiser acabar com as mordomias. Basta olhar para a classe política de que eles próprios fazem parte integrante.

22.11.06

Vão passear... malandros!


Luís Alves de Fraga

 

Não concordo com manifestações de militares do tipo reivindicação sindical. Fez-se uma, no ano passado, que foi do Largo do Camões à Assembleia, integrando essencialmente famílias e muitos reservistas e reformados. Chegou. Mais manifestações é, ao contrário de mostrar força, exibir fraqueza.

 

Só há uma forma de os militares se manifestarem: usando as armas de que são gestores para provar que, na violência, quem manda são eles. Mas esta manifestação só deve ocorrer quando a Pátria estiver em perigo, quando o Poder político for completamente ilegítimo, quando houver a clara noção de não existirem mais soluções para dar ao Povo o que ao Povo pertence: a Liberdade.

 

Evidentemente que eu posso passear onde e com quem eu quiser no dia e hora que melhor entender. Disso só o conselho médico me pode levar a considerar a minha decisão. Não vai ser nenhum dos senhores generais Chefe de nenhum Estado-Maior quem me proibirá de ir onde eu quiser — estou reformado e liberto de cadeias lineares de obediência cega e indiscutível! Nem vai ser o senhor governador civil de qualquer distrito deste país quem me proíbe de passear na via pública quando e onde me der na real gana — a não ser, claro, que a dita via esteja encerrada ao trânsito. Se algum deles me proibir o passeio, só me resta dizer-lhes: Vão passear... malandros! E vão passear, porque estão com o cérebro, provavelmente, mal arejado; porque estão a precisar de vento nas faces para os ajudar a lembrarem-se de que a 25 de Abril de 1974, uma semana antes do dia do Trabalhador, deixaram, em Portugal, de ser proibidos ajuntamentos de mais de três pessoas e de cada um andar na via pública à hora, dia e local que lhe apetecer e achar conveniente.

 

Já se esqueceram que, exactamente, em cada 1 de Maio, no tempo do Estado Novo, saíam para rua os carros com canhão de água existentes na PSP, carregados de tinta azul (azul, porque vermelha podia identificar-se com a cor da revolta!) para «dar banho» a todos quantos passeavam nas ruas da Baixa lisboeta. Passeavam, porque eram proibidas manifestações — mas nesse tempo justificava-se a proibição, já que se vivia em ditadura — e, para o Poder político da altura, o simples acto de passear, mais ou menos em grupo, era considerado manifestação.

 

Lastimo dizê-lo, mas os Chefes dos Estados-Maiores, uma vez mais fizeram o frete ao Governo, foram levados (e bem levados) pelo senhor ministro da Defesa Nacional, com quem despacham ou deviam despachar, dando a cara por uma atitude gratuita que os deslustra. Inteligentes eram eles e os governantes se, pura e simplesmente, deixassem passear quem quer passear, fazendo ouvidos de mercador. Assim, com a proibição de hoje, até me deram vontade de ir, também, passear para o Rossio. A mim que estava disposto a não sair de casa.

 

Veremos como amanhã nasce o dia, se com sol ou chuvoso. Talvez vá ou talvez não... Na altura decidirei.