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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

04.03.13

E depois da troika?


Luís Alves de Fraga

 

Os homens que ocupam os gabinetes dos ministros já ensaiaram esta pergunta para nos convencerem de uma realidade que é só, neste momento, uma perspectiva mal esboçada de uma terrível verdade na qual nem eles querem acreditar. Mas arrisquemos nós a execução desse exercício prospectivo.

 

Depois da troika, ou seja depois de 2014, 2015 ou 2016, Portugal poderá voltar “livremente” aos mercados financeiros e pedir emprestado o dinheiro que nos falta. Que nos falta para quê? Para fazer funcionar uma economia destruída, um Estado Social inexistente, um país empobrecido e cheio de desempregados, um país que nem é agrícola, nem industrial, nem comercial, nem nada. Um país de mão-de-obra desqualificada onde residem os que não tiveram condições de emigrar, um país de crédito caro e sem projectos estratégicos para o futuro, desarmado perante toda e qualquer concorrência, com as melhores das suas empresas, as que lhe poderiam definir um rumo, vendidas a preço de saldo ao estrangeiro, com escolas e universidades só acessíveis a uma escassa minoria da população, porque estudar vai ser caro, como caro vai ser cuidar da saúde, cheio de mendigos disfarçados de remediados. Um país onde os cidadãos não acreditam nos partidos políticos nem nas quiméricas miragens por eles prometidas. Um país indiferente à “coisa pública”, porque se debate com a sobrevivência de um dia-a-dia penoso e torturante. Um país que terá de viver dentro de si próprio e de si próprio, pois não terá capacidade para manter importações de médio luxo. Um país que será uma pálida lembrança daquilo que já foi no passado recente. Um país onde as auto-estradas serão usadas, de quando em vez, por muito poucos afortunados que se arriscam à liquidação das elevadas taxas nelas praticadas. Um país que voltará a gozar férias nas aldeias de origem ou um curto período de tempo em quartos ou casas alugados no Algarve, na costa alentejana e se despedirá para sempre das douradas incursões às estâncias de veraneio na estranja. Enfim, um país que cumprirá a percentagem do défice imposta pelo uso da moeda única, mas que será pobre como Job e, tal como ele, aceitará a canga que a divindade cifrão lhe imporá em nome de pertencer a uma Europa em rampa inclinada para o abismo financeiro.

Este será o “depois da troika” que nem Gaspar nem Passos Coelho têm a coragem de nos descrever. Este será o “depois da troika” que António José Seguro já viu, mas não quer mostrar aos Portugueses com receio dos estragos eleitorais que lhe causará uma tal imagem. Este será o “depois da troika” que a classe política sabe que vai impor-se-nos.

“Depois da troika” será algo semelhante ao ter entrado numa guerra altamente destrutiva – oposta à tão propalada “guerra dos neutrões”, que matava toda a gente, mas mantinha intactos todos os parques industriais, os meios técnicos e tecnológicos – que deixa viva a maioria de nós, mas destruída toda a nossa capacidade de sobrevivência. “Depois da troika” espera-nos a miséria colectiva com a sua boca desdentada e aberta, exalando um fétido hálito a pobreza.

 

E tudo porquê? Porque nos amarrámos ao “carro” europeu acreditando nele como se de um D. Sebastião se tratasse e, pior, porque, depois, já experientes no gastar sem tom nem som, sem rumo nem destino, quisemos fazer parte do clube dos ricos e decidimos perder a nossa moeda soberana para ter a soberana moeda dos opulentos convencidos que a nossa natural indisciplina e a tradicional tendência para o improviso nos permitiria ganhar ordem orçamental de modo a mantermo-nos equilibrados no balanço de um “mar” encapelado pelos ventos de luta entre o dólar e o novo euro. Puras ilusões e ingénuas promessas de capacidades!

Agora, quando tivemos de pedir ajuda externa como prova da nossa incapacidade e da nossa obediência às imposições exteriores, em vez de ameaçarmos com a imediata saída do euro, quiçá da União – e é importante ter presente que essa atitude é a única arma estratégica que possuímos para impormos uma redução no aperto do garrote que nos estrangula –, ficámos, uma vez mais, como qualquer Zéquinha bem comportado, prontos a cumprir as ordens vindas de fora; ordens para empobrecermos tal como Sócrates tinha obedecido à ordem para gastarmos sem preocupação com o défice.

 

Que vamos ficar pobres já o sabemos! Mas ficar pobres e sem os mecanismos de soberania que nos podem garantir a capacidade de manobra diplomática necessária para enfrentar a carência financeira? Será essa a solução que mais convém a Portugal e, acima de tudo, aos Portugueses?

Há um ano atrás valia a pena equacionar a possibilidade de continuar no euro e na União, mas hoje será ainda esse o caminho mais acertado, quando a economia está destroçada, o desemprego cresce em flecha e os rendimentos de quem vive de pensões se vêem ameaçados a uma drástica redução?

Precisamos do golpe de vista de um estadista que não temos e se não avizinha no horizonte da política nacional. Temos, isso sim, aprendizes de governantes e precisávamos de mestres!

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