Prisões e prisioneiros políticos
Há tempos reli com redobrado prazer o livro intitulado Memórias da Condessa de Mangualde que relata com bastante soma de pormenores a vida e a luta do seu marido contra a República, logo após a proclamação desta, em Outubro de 1910.
Combater por ideais, especialmente políticos, representa sempre um conjunto de sacrifícios difíceis de avaliar por quem nunca passou por tais situações. É sempre impressionante, belo e épico, embora se não concorde com a razão de fundo da luta em questão. Sendo eu republicano, não me escuso a admirar a pugna que os monárquicos desenvolveram para repor no trono um rei.
Acabei, hoje de manhã, a leitura do livro Memórias de Um Resistente às Ditaduras, da autoria do coronel Manuel António Correia, que era soldado, na Rotunda do Parque Eduardo VII, na noite de 4 para 5 de Outubro de 1910. Promovido por distinção a primeiro-sargento, já como alferes participou na Grande Guerra, em França, e era tenente quando, em 28 de Maio de 1926, foi imposta aos Portugueses a ditadura. Daí em diante passou a lutar pela democracia. Conheceu a clandestinidade, a prisão, as deportações, as perseguições levadas a cabo pelas polícias políticas.
Numa análise tão isenta quanto me é possível, lendo o primeiro relato e o segundo chego à conclusão de que, por muito má que tenha sido a vida de todos os que combateram pela restauração monárquica em Portugal, nada se compara ao tratamento que foi dado aos lutadores contra a ditadura. A prisão e a tortura ultrapassaram muito de longe os maus-tratos que o conde de Mangualde relata nas cartas que remeteu para a sua mulher ou nos documentos que deixou escritos. Realmente, as ditaduras sejam elas quais forem, permitem que o pior da condição humana se possa manifestar contra quem discorda do Poder.
Pelas visões que encerram, são dois livros que aconselho a quem quer perceber o lado negro da Liberdade e da Opressão.