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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

04.12.05

Do aeroporto de Cabul ao aeródromo do Figo Maduro


Luís Alves de Fraga

De um modo geral, a imprensa noticiou a chegada a Lisboa de 37 militares da Força Aérea que estiveram, desde Agosto, a gerir todas as operações de tráfego e controlo do aeroporto da capital afegã.


Não foi, de certeza, uma missão fácil, se atendermos ao elevado número de aeronaves, carga e passageiros que por aquela infra-estrutura passaram e, especialmente, se se levar em conta que tudo isso se fez sempre debaixo da tensão de um ataque inesperado, vivendo meses de stress ininterrupto.


A presença do ministro da Defesa Nacional e do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea no aeródromo militar do Figo Maduro, na Portela de Sacavém, trouxeram aos Portugueses a certeza de que aqueles 37 militares tinham estado a desempenhar-se de uma missão com alto significado para a política internacional. Não se tratou de um exercício ou de uma acção de pouca monta. Não, foi coisa que mereceu honras de ministro.


Ora, para quem não é de todo mentalmente inapto nem cego por facciosismo, percebe que as Forças Armadas nacionais estão, no presente momento, mais ao serviço da diplomacia e do relacionamento internacional do que nos últimos cinquenta anos. Há novas concepções do uso da força e dos elementos que dela são gestores. Assim sendo, verificamos uma total inversão das «leis do mercado» — se quiserem, da lei da oferta e da procura —, porque, num país pobre, paupérrimo, como era Portugal há cinquenta anos, as Forças Armadas, não sendo bem pagas, constituíam, todavia, um grupo social respeitado e mais privilegiado do que outros igualmente importantes dentro do aparelho do Estado. E, no entanto, a sua função limitava-se a garantir que se oporiam com denodo a qualquer ameaça à independência e soberania nacionais. Havia quem dissesse que eram, também, sustentáculo do Estado Novo. Pessoalmente nutro uma opinião diferente, se atentarmos na existência de constantes conspirações, entre os militares, para derrubar o odioso regime ditatorial vigente. Não nego — seria estultícia fazê-lo — que aos mais altos escalões dos ramos castrenses existia um sentimento serventuário pronto a esmagar todos quantos se manifestassem contra Salazar e a sua «arquitectura» estatal contida na trilogia «Deus, Pátria e Família». Mas será isso suficiente para classificar toda uma classe ou instituição? Se o é, não deveremos, hoje, ter rebuço em apelidar de ladrões e corruptos os políticos portugueses e os grupos que os integram, porque há alguns entre eles que o são. Ora, é da mais elementar justiça não adoptar tal postura, porque bastante incorrecta. Existiam militares bandeados com a ditadura tal como existiam aqueles que se lhe opunham. Nem uns nem outros chegavam para rotular a instituição castrense. Mas voltemos às «leis do mercado».


Realmente, quando o Estado mais precisa dos militares para o representar com dignidade, espírito de sacrifício e risco de vida, é quando esse mesmo Estado, pela mão dos Governantes, resolve retirar as poucas vantagens que não pagavam esta disponibilidade de serviço. Isto vai ao arrepio da lei da oferta e da procura. Isto é injusto. Isto é incorrecto. Isto é exploração. E nem sequer se pode ou deve argumentar que as pouquíssimas vantagens de que a «família» militar gozava constituíam uma injustiça em relação aos restantes servidores do Estado, pois que há muitas maneiras de servir e, especialmente de se servir. O modo como os militares servem é, de certeza, o mais abnegado, o mais arriscado e o de maior entrega nacional. Porque consciente do que acabo de afirmar o senhor ministro Luís Amado deslocou-se ao Aeródromo de Trânsito n.º 1, da Força Aérea, receber 37 «gatos-pingados» que representaram com dignidade e honra a política definida pelo Governo. Afinal a injustiça campeia nas hostes governamentais, campeia entre os socialistas nos quais eu acreditava.

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