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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

12.06.08

A singela homenagem


Luís Alves de Fraga

 

 
A 11 deste mês de Junho, pelas 17h30, a Associação Nacional de Sargentos (ANS), uma vez mais no célebre e velhinho «café» Martinho da Arcada, levou a efeito a comemoração do seu 19.º aniversário de existência. Realmente, a data da fundação ocorreu a 10, feriado nacional.
Os dirigentes acharam por bem aproveitar o dia e o momento para me fazerem entrega de um volume com todas as folhas de um abaixo-assinado que se destinava a ser depositado nas mãos do Senhor Presidente da República, na qualidade de comandante supremo das Forças Armadas, no qual se pedia que um «militar reformado» não fosse alvo de um «Processo Disciplinar (…) que apenas visa humilhar publicamente». Por iniciativa da COMIL (Comissão Militar) todas as folhas do abaixo-assinado deveriam ser enviadas à ANS. E lá chegaram muitas, perfazendo mais de oito centenas e meia de cidadãos de todas a qualidades profissionais. O volume foi-me entregue, porque, entretanto, perdeu a oportunidade, em consequência do arquivamento do processo disciplinar, conforme despacho do CEMFA.
Quiseram os responsáveis que o acto fosse uma singela homenagem à minha pessoa.
 
Este volume vai ficar depositado nas prateleiras da minha biblioteca pessoal, em lugar de honra e destaque para poder ser consultado quando sentir vontade de perceber o significado do que é, realmente, Solidariedade. Contudo, vai mais longe este volume… Ele vale pelos louvores que não me foram dados em vários momentos da minha vida militar. Momentos nem sempre politicamente correctos, mas sempre verticais perante a minha consciência; momentos em que, sendo igual a mim próprio, soube defender causas que outros queriam ver perdidas.
 
Foram, durante os tempos que durou a saga do processo disciplinar, muitas as pessoas que, mesmo sem abaixo-assinado, me fizeram chegar a manifestação da sua solidariedade. Não se tratou, em grande número de emails e de telefonemas, de mera cortesia; foi muito mais do que isso: senti-os como verdadeiros gritos de revolta contra uma medida de carácter administrativo que não tinha nem sentido nem razão de ser; uma medida cega de sensatez e ponderação. E a primeira associação militar a tomar, enquanto tal, uma imediata atitude de solidariedade para comigo, foi a Associação Nacional de Sargentos e isso nunca esquecerei.
 
Cabe, agora, a vez de recordar todos aqueles que foram punidos disciplinarmente por terem juntado a sua voz e gesto às iniciativas das associações militares. Fizeram-no, de certeza, não para afrontar a autoridade das Chefias militares, embora não concordassem com a acção silenciadora que estas lhes impunham, mas para defenderem direitos que todos nós reconhecemos que têm de ser defendidos.
Não acredito, não posso acreditar, que o general CEMFA prefira e concorde com o actual sistema de assistência sanitária das Forças Armadas. Violenta-me a inteligência a simples ideia de que ele possa eleger a ADM à velha ADMFA. De certeza, não elege. Ora, a questão coloca-se exactamente nesta incoerência: como é que alguém, não concordando com o sistema de saúde imposto pelo actual Governo, pode mandar punir quem manifesta em público a sua discordância?
O erro é de forma e não de fundo?
Então isso quererá dizer que as Chefias militares privilegiam a aparência sobre a essência? Será esse o conceito mais profundo de disciplina?
Por onde anda a cultura da frontalidade como pilar essencial da obediência?
Vamos todos fingir que somos disciplinados, alimentando a falsidade de posturas? Vamos todos aprender a fazer de conta que estamos dispostos a dar a vida por uma causa e, no momento decisivo, voltamos costas e fugimos aos nossos compromissos?
De que Ética e de que Deontologia Militar estamos todos nós a falar? Da do politicamente correcto? Daquela que se cultiva em certos gabinetes do Poder? Mas não foi com essa que nós fizemos treze anos de guerra em África! Não foi com essa que afrontámos os perigos e dificuldades nas mais diferentes situações de campanha! Não é essa a que a Nação espera de nós!
 
Impõe-se uma amnistia geral de todos os militares que foram punidos ou têm processos disciplinares em curso, porque, no final das contas, generais e sargentos, coronéis e praças, estão de acordo na essência e em desacordo na forma e esta modifica-se de momento a momento… Basta que o general passe à situação de reforma e deixe de fazer parte do contingente necessário ao cumprimento da missão primária do Ramo das Forças Armadas. Nessa altura vai ser mais um dos velhos chatos que «atrofia» o «bom andamento» dos serviços.
Esperem só mais uns anos!
Nunca esqueçam os poderosos de hoje que a glória é vã e efémera!

 

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