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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

05.06.08

Eu estive lá!


Luís Alves de Fraga

 

 

 
Foi ontem, ao fim da tarde, que houve uma significativa concentração de sargentos e praças da Armada — à qual se juntaram alguns, poucos, oficiais — mobilizados pela Associação Nacional de Sargentos (ANS) e pela Associação de Praças da Armada (APA) e, ainda, pela Comissão de Militares (Comil) para, todos em conjunto, se manifestarem ordeiramente entre o Largo do Camões, em Lisboa, e o largo fronteiro à escadaria da Assembleia da República.
Eu estive lá! Estive, porque me identifico, desde a primeira hora (veja-se aqui) com as razões mais fundamentais da manifestação de protesto.
Este Governo — dito socialista — quis corrigir o deficit e tem-no feito à custa dos Portugueses, sem olhar a meios, sacrificando os que mais dispostos estão a servir Portugal: os militares.
 
É inevitável que sejam as praças e os sargentos, os reservistas e os reformados, os primeiros a clamar por justiça, pois são os que mais debilitados se apresentam dentro do quadro salarial castrense. Para eles trata-se de uma questão de sobrevivência reclamarem os direitos de que foram esbulhados.
 
Em Portugal subsistiu, quase quarenta anos, um sistema de saúde militar e o correspondente apoio às famílias o qual era suficiente para compensar os baixos vencimentos pagos a quem havia escolhido servir o país nas fileiras. Sempre houve saldo negativo na gestão do Orçamento do Estado; sempre se encontraram formas de tornear as dificuldades sem afectar excessivamente os direitos dos militares. E nisso residia a justiça de lhes reconhecer a diferença em relação a todas as outras corporações laborais. Mas as sinecuras para muitos que comem à mesa do Orçamento foram aumentando, as regalias foram-se alargando a servidores ocasionais do Estado e, este Governo — supostamente socialista — para remendar o buraco orçamental, ao invés de cortar benefícios a todos os que chegaram tarde e a más horas ao serviço público — e estou a pensar em autarcas, em parlamentares, em assessores de políticos, em directores-gerais (que pululam como pulgas em pelo de cão), em antigos ministros e, até, em antigos Presidentes da República — começou por cortar — e continua a cortar — nos militares. E porquê?
Porque os julgava aperreados pela Lei, porque os supunha silenciados por obrigações que, afinal, os Tribunais reconhecem que os não obrigam. Por isso, ontem os mais modestos dos militares no activo, na reserva e na reforma, em vez de uma passeata inofensiva — mas sempre incómoda — fizeram uma manifestação, também inofensiva e ordeira, mas, por certo, mais notória do que as anteriores formas de protesto.
Já não se reclama a reposição de direitos perdidos; exige-se o cumprimento de todas as Leis da República que se aplicam aos militares, pagando o que se lhes deve; a eles e às suas famílias.
 
Eu estive lá! E éramos muitas centenas — dizem os jornais que seríamos meio milhar!
Não atentámos contra a coesão e a disciplina nas Forças Armadas, como anteriormente tem sido usual as chefias militares acusarem; não, pelo contrário, mostrámos que, mantendo a coesão e a disciplina nos quartéis, se pode fazer ouvir, em boa ordem, publicamente o descontentamento dos militares.
 
É tempo do Governo perceber que entre os militares há quem não baixe a cerviz com a passividade de certos bovinos para receber a canga que supostos donos lhe querem impor; é tempo do Governo perceber que, dentro da ordem democrática, os militares, cada vez mais sabedores dos seus direitos e das suas obrigações, estão dispostos a, ordeiramente, lutarem por aqueles enquanto cumprem, honrada e dignamente, estas. E, enquanto assim for, eu estarei lá. Estarei, com honra e dignidade, ao lado da justiça e da razão.

 

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