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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

12.02.08

Hospital da Força Aérea, Chefes e outras coisas


Luís Alves de Fraga

General Luís Evangelista Araújo

Chefe do Estado-Maior da Força Aérea

 
Nada há de pior do que perder a cabeça quando se está a ter uma discussão. A emotividade é sempre má conselheira. Em contra-partida, a calma é a grande companheira da sensatez.
 
Vem isto a propósito da crónica anterior a esta no meu blog.
Com efeito o Sargento-Chefe Silva Nuno, com muita calma e grande ponderação, escreveu uma carta aberta que acolhi livremente no meu blog, por achá-la digna de ser lida e divulgada entre todos os que habitualmente consultam o «Fio de Prumo».
Esta carta provocou naturais «ondas de choque» entre os sargentos que a leram. «Ondas de choque» que mais não são do que outros tantos gritos de revolta, plenos de razão, mas gritados aos ouvidos de quem não tem que os escutar por não ter qualquer culpa na motivação que lhes deu origem. Realmente, contra as longas filas à porta do Hospital da Força Aérea (HFA) já eu, em 27 de Maio de 2007, me insurgi na crónica que intitulei «Bocas, notícias e informações». Quem duvidar pode lá ir ver!
Claro que, agora, devo recordar às Chefias da Força Aérea a responsabilidade que elas têm neste estado de coisas.
 
De facto, não são só sargentos que vão de madrugada para a fila da marcação de consultas à porta das instalações da Base do Lumiar! Conheço coronéis que por lá andam, também, na ânsia de conseguirem a tal consultazinha quase de favor! Eu recuso-me a entrar nessa fila!
As Chefias responsáveis — Director do Hospital, Comandante da Base do Lumiar, Director do Serviço de Saúde, Comandante do Pessoal da Força Aérea e Chefe do Estado-Maior da Força Aérea — já deviam ter tomado medidas contra tal estado de coisas. Toda a gente assobia para o lado e deixa que o espectáculo se vá repetindo semana após semana. No mínimo, esquecem-se que um dia serão reformados e poderão ter de estar na fila! Não se julguem isentos! Recordem-se do nazismo e do holocausto… Enquanto eram presos e levados para campos de concentração judeus pobres, os ricos julgavam-se ao abrigo de tal tratamento… Mas também chegou a vez deles! Também há-de chegar a vez dos Senhores Generais… que mais não seja, quando forem bastante velhos para que os Generais de então já não lhes tenham mais do que um pálido sintoma de respeito!
 
Há-de ser possível dar a volta ao sistema de marcação de consultas de modo a evitar este triste espectáculo e este lamentável incómodo para gente doente e com direitos… Talvez poucos, mas com direitos. Ou será possível que o Senhor General CPESFA não tenha capacidade para arranjar assessores, no meio da Força Aérea, para lhe implantarem um SIMPLEX mais eficaz do que qualquer outro imaginado pelos burocratas do Governo? Quando para obter a renovação do Bilhete de Identidade de cidadão português já só se tem de esperar quatro dias úteis, não serão os Serviços do EMFA competentes para estudarem e resolverem o problema da marcação das consultas do Hospital da Força Aérea?!! A profissionalização da Força Aérea tê-la-á levado à imobilização reformadora?
 
Sobre a postura das Chefias da Força Aérea gostaria de recordar um velho e esquecido Chefe de Estado-Maior que mostrou, num período bem mais difícil do que o actual, a sua qualidade de líder. Eu conto a estória.
Foi no final de 1978 ou no começo do ano de 1979, era CEMFA o General Lemos Ferreira, o Governo ameaçou fazer cortes substanciais no orçamento destinado às Forças Armadas e, muito especialmente, no da Força Aérea. Aquele General — que não temia, nem estava na cadeira de Chefe por favor político — só tomou a seguinte atitude: mandou para todos os órgãos de comunicação social um comunicado afirmando que a Força Aérea, a verificarem-se cortes orçamentais, deixaria de cumprir as missões que lhe estavam atribuídas no âmbito externo, nomeadamente no da OTAN.
Como se vê o Homem tinha coragem! Pode ter exorbitado aqui ou ali, durante o período em que esteve à frente dos destinos da Força Aérea, mas frontalidade e coragem não lhe faltaram. E disso sou testemunha, porque vivi esse tempo. E não se diga que eram épocas diferentes das de agora! O que é diferente é a forma como os Chefes da Força Aérea atacam e enfrentam os problemas actuais.
 
A atitude das Chefias é diferente, porque não tendo coragem ou, tendo-a, não querem dar dela público manifesto, dão, assim, mostras de uma subserviência ao poder político que envergonha a tropa que comandam.
Claro que se cometeu, há muitos anos, um tremendo erro de cálculo — o qual só tem justificação na ingenuidade dos militares que estiveram à frente do processo revolucionário — quando se acabaram com os ministérios militares, concentrando no Ministério da Defesa Nacional a tutela das Forças Armadas. É que, quem quer governar, diz o Povo, divide e ao unir sob a mesma batuta os três Ramos entregou-se de bandeja todo o poder nas mãos de uma só pessoa. Erro crasso!
 
E o problema levantado pelo General Garcia Leandro, no artigo que publicou no Expresso e na entrevista dada ao Correio da Manhã, parecendo que nada tem a ver com uma simples fila de utentes militares à porta do Hospital da Força Aérea, está em tudo com ela relacionado, pois traduz um mal-estar da Nação para o qual os Chefes militares deveriam chamar a atenção do Poder, porque esse estado de espírito também corrói dentro das fileiras.
É necessário que os Generais na situação de activo tomem consciência da grave situação nacional e sejam capazes — como Chefes a quem compete a defesa militar da Nação — de se posicionar de modo a clamarem junto do Governo contra as graves distorções sociais e económicas que se estão a verificar. Como reserva moral da Pátria, as Forças Armadas não podem ficar neutrais e indiferentes ao que se passa à sua volta: não têm que interferir, mas têm o dever moral de alertar para o sentir do Povo, porque Portugal caminha, a passos bem largos, para uma situação de ruptura social.
O que pode acontecer, não faço ideia!

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