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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

12.11.07

No limiar da miséria


Luís Alves de Fraga
 
Hoje, o matutino Correio da Manhã traz um excelente artigo sobre o modo como sobrevivem Portugueses que têm de rendimento mensal pouco, muito pouco, mais do que o necessário para não estarem na miséria. Mas estão, de certeza, no limiar da miséria.
 
O jornal dá-nos o exemplo de duas situações; poderia dar de muitas mais.
Nunca, como na actualidade, desde há 33 anos, o nível de desemprego esteve tão alto; nunca, como nos dias de hoje, a precariedade de rendimentos familiares foi tão grande.
 
Ao amarrar-se ao «comboio» europeu Portugal indubitavelmente beneficiou — e difícil seria não beneficiar depois de 48 anos de ditadura e 13 de guerra — mas o desgoverno do Governo de Cavaco Silva possibilitou que se estabelecesse o começo do declive que nos levaria à posição onde estamos agora. Permitiu, porque não soube traçar uma estratégia de desenvolvimento que rentabilizasse os muitos milhões de contos diariamente entrados no país; não soube avançar para uma economia sustentada e sustentável. Durante 10 anos de maioria governativa, Cavaco Silva deixou que se instalasse, entre nós, a corrupção a par de elevados e fictícios níveis de consumo. Guterres fechou um ciclo de falta governabilidade. Os que se lhe seguiram já só tinham de suportar o desgoverno.
 
O grande pecado de Sócrates não está na tentativa desesperada de corrigir o deficit que a estrutura herdada gera quase por si só. O grande pecado foi que enganou, uma vez mais, os incautos Portugueses que acreditaram nas suas promessas eleitorais, que julgaram ser possível sair do atoleiro sem grandes, muito grandes, sacrifícios económicos. O grande pecado de Sócrates é continuar a enganar os Portugueses, exigindo a uns que apertem o cinto e a outros que o alarguem à medida dos grandes lucros e altos rendimentos conseguidos nesta sociedade onde impera a lei da globalização.
 
A classe média está a esboroar-se a um ritmo assustador. As franjas mais débeis desse grupo social ainda suportam a queda dos que estão no limiar da pobreza. São os pais, com reformas exíguas, que suprem as carências dos agregados familiares dos filhos que, sem esse apoio, já seriam indigentes.
É este corroer da classe média que está a desequilibrar a sociedade nacional. E em nome de quê?
Em nome de um pacto de estabilidade imposto pelas economias ricas da Europa que não querem ver desequilibradas as suas posições cimeiras.
 
Esta corrosão da classe média nacional faz-me lembrar o começo da perseguição nazi na Alemanha dos anos 30 do século passado. Na verdade, os judeus abastados e bem instalados, não quiseram acreditar que um dia seriam eles as vítimas das matilhas de furiosos assassinos e mantiveram-se impassíveis perante as perseguições que se faziam aos judeus miseráveis e vivendo de parcos recursos. Quando abriram os olhos para a realidade que os cercava era já tarde para a grande maioria deles.
O mesmo acontece connosco, classe média portuguesa; por enquanto são os reformados com pequenas rendimentos que sustentam os lares dos filhos em quase miséria, mas, amanhã, seremos nós, os que temos reformas mais elevadas, que, para além de as vermos degradadas pela inflação, estaremos a partilhar o que, então, já é pouco com os nossos filhos, também eles a viverem o desemprego e a quase miséria.
Estou a ser catastrofista? Esperem e verão, mas, depois, é já tarde como foi para os milhões de Judeus que morreram nos campos de concentração nazis.
O nosso campo de concentração vai ser o da economia global num país que, além de uns frágeis serviços que vende mal e descuidadamente à Europa, só terá sol e calor para oferecer por uma tuta-e-meia; outros portugueses, os enriquecidos — e não vamos ser nós, os que me lêem — gozarão lá por fora, insensíveis à desgraça do seu país natal, as delícias das gordas maquias conseguidas por extorsão dos seus compatriotas, quando estavam ao serviço desse insaciável monstro que comanda o imperialismo global.
 
Impõe-se a revolta e a manifestação do descontentamento.
Impõe-se a luta pela salvaguarda dos nossos exíguos valores.
Impõe-se a luta pela inversão deste processo.
Impõe-se a luta contra o silêncio e a apatia.

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