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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.12.05

Uma visita e uma entrevista (II)


Luís Alves de Fraga

Como prometido, cá volto à entrevista do licenciado Luís Amado ao Correio da Manhã.


Um Amigo e camarada chamou-me a atenção para outra interpretação das palavras do senhor ministro. Passo a expor.


Se a décalage entre a remuneração dos militares e a dos restantes corpos do Estado se ficou a dever à falta de modernização das Forças Armadas, por onde diabo anda a modernização do restante aparelho estatal que nunca demos por ela e todos os serviços a reclamam? Como se vê, trata-se de mais uma falácia do senhor ministro que, tal como certas crianças, por serem incapazes de fazerem esculturas na areia da praia se entretém a atirá-la aos olhos dos outros.


E o licenciado Luís Amado vai ao ponto de afirmar: «Repare que entre 1974 e o final dos anos 90, o papel das Forças Armadas não estava tão bem definido como antes, nem como se percepciona hoje face ao novo desafio com que somos confrontados».


Mas esta afirmação é divertidíssima! Dá para rir a bandeiras despregadas! Para além do que já dissemos no apontamento anterior, note-se como o ministro da Defesa Nacional, do PS (partido que sempre, até hoje, me mereceu a maior simpatia), faz a defesa da visão estratégica dos governantes do Estado Novo! Isto é incrível! Então o papel das Forças Armadas em 1973 e antes dessa data, segundo o licenciado Luís Amado, estava bem definido?


Das três, uma: ou o senhor ministro está desfasado no tempo e julga-se integrante de um ministério salazarista/marcelista (Forças Armadas para defender a herança dos nossos maiores contra as arremetidas dos comunistas); ou o senhor ministro aceita que o papel da Forças Armadas não sofreu alteração ao longo de todos os tempos e Governos (e neste caso não faz sentido a sua argumentação); ou o senhor ministro aceita aquilo que é comum a muitos dos seus colegas políticos: as Forças Armadas foram um esteio do Estado Novo e, por isso, têm de ser castigadas até se mostrarem conscientemente civilizadas, ou seja, até, pelo menos, estarem na reforma todos os oficiais que fizeram o 25 de Abril.


Convenhamos que é ridículo...


Mas avancemos na entrevista. A dado passo, João Vaz, o entrevistador, pergunta «se já estão ultrapassados os problemas com o associativismo militar» e eis que entre vários tons de blá-blá, o senhor ministro Luís Amado deixa escapar esta frase digna de ficar emoldurada para a História: A seu tempo serão chamadas [as associações de militares] a pronunciar-se sobre outras matérias no âmbito do que entendemos ser a sua intervenção.


Excelente! Gonçalves Proença, ministro das Corporações, no tempo de Salazar, não responderia com mais acerto! Meu Deus! Este senhor é socialista? Este senhor faz parte de um Governo democrático? Este senhor sabe o que é o diálogo entre partes representativas de interesses opostos? Não é, não faz parte e não sabe.


Com esta afirmação, Luís Amado acabou por ofender todos os militares que fizeram o 25 de Abril para dar voz a quem a não tinha na ditadura. E mais não digo. Guardo-me para amanhã, ou depois, continuar a análise desta entrevista bastante infeliz do licenciado Luís Amado, ministro da Defesa Nacional. É bom, aqueles que me lerem, interiorizarem o significado das palavras proferidas pelo membro do Governo e os respectivos comentários da minha lavra...

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