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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

29.12.05

Uma visita e uma entrevista (III)


Luís Alves de Fraga

Para dar por concluída a análise da entrevista do ministro da Defesa Nacional concedida ao Correio da Manhã, falta abordar um ou dois pontos, nos quais procurarei ser sintético.


A propósito de uma pergunta sobre o sistema de saúde militar, Luís Amado refere que num futuro próximo deixarão de existir três hospitais — o da Marinha, o do Exército e o da Força Aérea — para existir somente um Hospital das Força Armadas. E, demagogicamente, para dar crédito à sua decisão, com todo o despudor, afirma: «Vejo a reforma da Saúde Militar já nas actas do Conselho da Revolução de 1975». Comecemos por aqui..


Um só hospital das Forças Armadas. Porque motivo existem três hospitais? O senhor ministro terá estudado convenientemente toda a História dos Serviços de Saúde Militar do nosso país? Saberá que, por exemplo, na Armada, há navios que vencem médico embarcado? Conhece o motivo porque nasceu o Hospital da Força Aérea? Já alguma vez lhe falaram no Hospital da Terra Chã? Já lhe deram a conhecer as estatísticas de atendimento dos diferentes hospitais militares? Sabe que, em tempo de guerra, o Serviço de Saúde Militar é sempre aquele que apresenta maior deficit de pessoal, tendo de se socorrer de elevado número de milicianos? Desconhece que, hoje, qualquer militar pode ser atendido em qualquer dos três hospitais, independentemente do Ramo a que pertence? E que, pelo menos no Hospital da Força Aérea, se atendem funcionários do Estado beneficiários da ADSE? Então, porquê um só hospital das Forças Armadas? Qual é a racional? Onde está a poupança? Duplicação de serviços? Ah, então o senhor ministro opta por um único serviço que cobrirá os três Ramos com a desvantagem de o utente em vez de esperar um mês por uma consulta passar a esperar três ou quatro! Grande solução! Acredita que os custos fixos se reduzem? Não sabe que é preferível e mais barata a manutenção de uma pequena unidade com uma elevada taxa de ocupação e baixa taxa de espera a uma grande unidade com taxas de tempo de espera muito elevadas? Onde está a preocupação com os doentes? Vai-se repetir, nas Forças Armadas, o mau funcionamento que existe a nível nacional?


O senhor ministro esquece que, em 1975, os hospitais só atendiam os militares do Ramo a que pertenciam e, quando o problema da Saúde Militar se levantou, ia no sentido de se especializarem as três unidades hospitalares em ramos diferentes de medicina, garantindo, assim uma melhor cobertura sanitária para todos os militares e suas famílias. Como desconhece, atira areia para os nossos olhos, esquecendo que há gente que não esquece. Eu não esqueci.


Mais à frente, na entrevista, Luís Amado, deixa escapar esta brilhante afirmação: «Mas o importante é desenvolver um processo coerente que identifique bem as missões no futuro, que estabeleça o paradigma de organização mais adequado, o tipo de equipamento indicado e a natureza das carreiras necessárias para servir esse modelo de Forças Armadas».


Qual é a cartomante, o astrólogo ou vidente com bola de cristal frequentados pelo licenciado Dias Amado? É que para definir os parâmetros antes referidos é preciso ter um excelente serviço de informações estratégicas e uma muito clara noção dos interesses e objectivos nacionais, coisa que em Portugal não existe.


Que futuro? Até onde vai o futuro do senhor ministro? Que missões? De defesa dos interesses nacionais permanentes ou dos temporários? Que interesses temporários? Estas são questões tão elementares que até parece mal colocá-las. Mas são perguntas que têm de ser feitas num país que alegremente aliena, a privados e estrangeiros, sectores estratégicos da nossa economia. Há, por conseguinte, uma total incoerência entre a prática governativa e o discurso do ministro da Defesa Nacional. Não pode ser levado a sério por quem sabe o que é Estratégia e Defesa! Mas a irresponsabilidade vai mais longe, porque desconhecendo em absoluto as grandes tendências conjunturais e contextuais do futuro, o senhor ministro associa as missões desse devir ao paradigma de organização das Forças Armadas, ao equipamento e, pior ainda, à natureza das carreiras que servirão esse modelo construído na base do hipotético, do provável, do instável. É extraordinário! Como arquitecto, o senhor ministro da Defesa Nacional parte da construção dos anexos para a definição do edifício principal.


Não é aqui o local, nem o momento, nem sou eu quem lhe vai ensinar como se faz, porque o economista Luís Amado, ministro da Defesa Nacional, tem obrigação de se saber rodear das autoridades competentes que o esclareçam como se constrói um sistema militar de defesa nacional. A mim cabe-me o papel de mostrar aos meus leitores que o senhor ministro não sabe e não sabe ou não quer ouvir quem melhor o poderia aconselhar.


Para mim, está provada a competência do senhor ministro Luís Amado!


Em tempos muito recuados, dizia-se por graça, entre as tropas de infantaria a seguinte frase: «Deus nos livre da nossa artilharia, porque com a do inimigo podemos nós». Ora, em face da entrevista que acabo de comentar, sem qualquer ponta de blague, eu parafraseio o dito dos infantes, afirmando: Deus nos livre do nosso ministro da Defesa Nacional, porque dos interesses nacionais portugueses toma conta o inimigo.

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