Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

05.08.07

Militar, funcionário ou segurança


Luís Alves de Fraga
 
Quando eu era católico e assistia à missa — aprendi em latim, mas depois passou a ser celebrada em português — a certo passo, depois da consagração, quando a hóstia já sagrada era apresentada à assembleia, dizia-se — e diz-se — «Senhor, eu não sou digno que entreis na minha morada, mas dizei uma só palavra e a minha alma será salva».
 
Todos os domingos, ou quase todos, vou almoçar com a minha mulher à Messe Militar do Campo de S.ta Clara. Antes que o Governo se lembre de acabar com a Manutenção Militar e com todas as Messes, lá vamos comer a refeição um pouco mais barata do que em qualquer restaurante de média categoria.
Há, talvez, quatro ou cinco semanas fui surpreendido por uma estranha substituição: a recepcionista — faz também as funções de telefonista — já não era uma funcionária, nem um funcionário civil da Manutenção Militar, nem mesmo um militar, mas uma funcionária da empresa de segurança que dá pelo nome de Securitas.
 
Foi nessa altura que me vieram à mente as tais palavras da missa: Senhor, eu não sou digno… — mas agora tive de as substituir — de entrar na vossa morada… Não sou, porque estou completamente baralhado!
Eu estava a entrar num estabelecimento militar ou numa qualquer instituição de uma natureza desconhecida? É que, “no meu tempo” a segurança das unidades militares era feita por soldados; o trabalho de recepção podia ser desempenhado por militares ou por civis em estabelecimentos com a vocação de messe, mas por elementos de uma empresa de segurança?! Essa não lembra ao mais pintado!
 
A profissionalização das Forças Armadas está a andar a uma tal velocidade que, um dia destes, nas paradas militares — ainda há disso?! — vê-se desfilar um regimento da Securitas, seguido de um batalhão da ProSegur e de uma companhia da Esegur e outra da Condor; por mero acaso, está na tribuna um senhor fardado de general!!!
 
Não sei — embora possa imaginar — qual o motivo por que foi substituída a funcionária da Manutenção Militar por outra da Securitas, mas, senhores coronéis e generais, tenham a noção do ridículo… Fardados com o uniforme da Securitas à porta de um estabelecimento militar é que não! Tenham, ao menos, um pouco de… vergonha para não dizer de dignidade. A tal dignidade que me leva, todos os domingos a pensar, antes do almoço: Senhor, eu não sou digno de entrar na vossa morada… porque tenho vergonha e uma pensão de reforma que não chega para alimentar a minha forte vontade de ir comer no restaurante em frente.
 
Em face do que acabo de expor e que é rigorosamente verdade, pergunto-me: sou somente eu que tenho um exagerado sentido do ridículo e da dignidade ou estarão os militares na situação de activo a perder o que deveriam ter? Tiveram e perderam ou nunca tiveram?
Ah senhores, “no meu tempo” não era assim!

8 comentários

Comentar post