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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

07.10.06

A consciência de um Governo


Luís Alves de Fraga

 

Culturalmente, até por causa da minha idade, fui fortemente influenciado pela cultura francesa. Só na minha adolescência, aquilo que poderíamos chamar cultura americana, começou a ter algum reflexo em Portugal, particularmente entre os jovens. Lá por volta do começo dos anos 60 do século passado, por força das músicas e dos cantores em voga, os Americanos (entenda-se, os naturais dos Estados Unidos da América) ganharam maior relevo em relação à influência francesa que se fazia sentir no nossos país e nas camadas alfabetizadas e urbanas.

É preciso recordar que, em 1965, por exemplo, ainda corriam nas maiores salas de cinema de Lisboa, excelentes filmes franceses, italianos e ingleses a par de algumas piroseiras vindas de Espanha (Sara Montiel e Joselito incluídos). As fitas americanas ganhavam, lentamente, terreno em especial através da televisão que, mesmo assim, se manteve fiel a excelentes séries inglesas.

 

Vem esta introdução ao caso, para justificar o facto de peremptoriamente declarar que acho os Franceses — olhados como um todo e não em casos individuais — xenófobos, arrogantes, presunçosos, educadamente cínicos e demasiado cheios de vento. Contudo, tenho procurado, ao longo da minha vida, exercitar a capacidade de aceitar no mesmo plano intelectual o que me desagrada e o que me agrada. Só assim posso pôr à prova não só a minha tolerância como, também, a minha capacidade de análise científica, em especial, dos fenómenos sociais; os meus sentimentos têm de se apagar para dar lugar, tanto quanto humanamente é viável, à frieza e imparcialidade de quem quer estar ao lado da exactidão.

 

Há dias, a 28 de Setembro, topei na revista Le Point, com a notícia do anúncio de uma decisão do Governo francês: ia passar a pagar a cidadãos das antigas colónias, que haviam combatido ao lado da França, uma pensão igual aquela que os veteranos nacionais recebem!

Fiquei, naturalmente, intrigado e procurei saber um pouco mais do assunto.

Ao consultar o jornal Le Monde, de 27 de Setembro, topei com a explicação: o Governo francês vinha pagando uma pensão aos «indígenas» das antigas colónias pela sua contribuição na defesa da França durante a 2.ª Guerra Mundial, mas esta ficara congelada, algures no tempo, após as independências dos Estados coloniais. Há relativamente poucos anos, em 1995 e 2002, Jacques Chirac avaliou o que os «indígenas» recebiam em menos de um terço do valor recebido pelos veteranos nacionais. Ao assistir à estreia do filme, em Paris, com o mesmo nome — «Les Indigènes», do realizador Rachid Bouchareb — o choque foi de tal monta que, logo após a sessão, o presidente da República decidiu mandar que lhes fosse pago exactamente o mesmo que aos seus companheiros de luta franceses. E são ainda à volta de cem mil ex-combatentes.

A reparação da injustiça é necessária, porque muitas famílias foram afectadas pelas sucessivas guerras em que a França esteve envolvida — 1914-1918, 2.ª Guerra Mundial, Indochina, Argélia — as quais deixaram marcas profundas nas respectivas descendências.

A França está com o orçamento do Estado deficitário. Não tanto como o de Portugal, mas está e, todavia, não hesita em fazer justiça. Por cá o Governo que nos coube em sorte, por escolha nossa, encarrega-se de, todos os dias, fazer aprovar medidas legislativas que ampliam a injustiça social. Há um ano, começou exactamente pelos militares do activo, reserva e reforma; agora, já sem pejo de espécie alguma, arrasa as poucas vantagens de carácter social e económico de que usufruíam os cidadãos. Claro que, para a injustiça ser mais perfeita, não se mexe nas regalias daqueles que já vivem cheios das mordomias resultantes de chorudos rendimentos financeiros. Todos esses integram o grupo que o Governo quer poupar para que invistam e façam surgir mais riqueza e mais trabalho para os Portugueses!

Em França os políticos não serão muito melhores do que os cá de casa, mas, pelo menos, têm — porque têm ou porque os obrigam a ter — respeito pela maioria dos cidadãos e, acima de tudo, por essa enorme massa que dá pelo nome de classe média, aquela que em Portugal os Governos socialistas se encarregam, há anos, de procurar reduzir à condição de classe inferior. Será que um estágio dos nossos políticos junto dos seus pares franceses lhes modificaria a maneira de se comportar ou somente iria refinar a sua natural tendência para a corrupção activa ou passiva?

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