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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

10.04.17

O Perigo Interno


Luís Alves de Fraga

 

Não, não vou escrever sobre terrorismo! Isso é dar alimento a quem dele não precisa.

Do que vou ocupar-me é, em breve linhas, do perigo de se desfazer a coligação parlamentar de esquerda existente em Portugal.

 

Não quero cometer o erro de julgar os comunistas do PCP menos inteligentes do que eu. Nem os bloquistas. A todos eles sobra muita inteligência, que a mim me falta! Mas, também lhes sobra uma outra coisa que a mim me escasseia em absoluto: "partidarite"! Eu não tenho partido político; eu voto invariavelmente num partido do leque da esquerda, porque o meu pensamento político se situa à esquerda. Uma esquerda, que foi influenciada, está a fazer cinquenta anos, pela leitura atenta de Marx, e de todas as teses clássicas dos diferentes socialismos teorizados no século XIX.

 

Ora voltemos ao PCP e ao Bloco de Esquerda (BE). E passemos pelo Partido Socialista (PS).

O meu grande receio é que o PS consiga uma confortável maioria nas próximas eleições legislativas. Tão confortável que se atreva a governar sozinho. E aí reside uma das faces do perigo interno, porque os socialistas vivem entre contradições, que tanto os empurram para a direita como para a esquerda. E, se guinam à direita, por força das imposições de Bruxelas, lá os vamos ter colados ao PPD/PSD ou, se preferirem, lá vamos ter o PPD/PSD colado ao PS. E as indefinições do PS voltam ao "antigamente", ou seja, ao bloco central! Mesmo que declarem o contrário!

 

Mas e o PCP e o BE?!

Bom, para além de desejar que o PS careça de um entendimento parlamentar com o PCP e ou com o BE, o que eu desejo mesmo é que, tanto um como o outro destes partidos marxistas, tenham o bom-senso de "não esticar a corda" para os limites do impossível ao PS...

 

Vamos lá ver.

Não desejo que nenhum dos três partidos se descaracterize! O PCP pode e deve continuar a ser igual a si mesmo, tal como o BE e o PS (com todas as suas contradições). O que eu acho ser bom para Portugal e para os Portugueses é que ponham em comum tudo o que pode ser comum a todos, deixando de fora, sem azedume, aquilo que os define como diferentes. Deste modo, todos ganhamos. De outra maneira, todos perdemos. Já chega de "partidarite", de "braços-de-ferro", de desentendimentos. O PS só ganha se se entender com o PCP e o BE, e qualquer um destes não perde se se mantiver, igual a si mesmo e sem desvirtuar o seu carácter político, ligado a um entendimento com o PS. Toda a esquerda portuguesa agradece, bem como todos os portugueses vão perceber quanto votar à esquerda pode ser benéfico para as classes mais humildes e para as classes médias.

 

A minha voz não chega às sedes partidárias, nem aos órgãos directivos dos partidos de esquerda, mas... a esperança, embora morrendo como tudo o que é vivo, é a última a morrer!

08.04.17

Sou Incorrecto


Luís Alves de Fraga

 

Não me julguem mal-educado! Tanto quanto possível, não o sou. Mas, às vezes, defendo a incorrecção. Entenda-se a incorrecção política!

 

Ah, pois é! Julgavam que era da outra, de própria da civilidade, que estava a falar?! Não, meus caros! É da política. Da política, pois essa anda a precisar de quem diga umas verdades pouco correctas.

 

Houve mais um atentado terrorista!

Alguém se lembra dos atentados da ETA? E da quantidade de guardas-civis espanhóis que foram mortos? E do terrorismo na Irlanda? Alguém recorda as vítimas? E recordam-se dos nomes dos políticos que, então, andavam na moda? Teve dimensão global algum desses atentados?

 

Esse terrorismo passou de moda e foi politicamente resolvido ou, será melhor dizer, porque foi politicamente resolvido, passou de moda.

Foram dois factores que se conjugaram para que ficasse resolvido: as negociações políticas e a pouca publicidade que se deu aos atentados.

 

O segredo da solução está nesta receita: deixem de dar publicidade ao Estado Islâmico e tratem, nos órgãos de comunicação social, os atentados terroristas como tratam qualquer notícia de acidente rodoviário, por exemplo! Comecem por não dar nem publicidade nem visibilidade ao Estado Islâmico! Depois, tratem os terroristas como aquilo que eles são: criminosos de delito comum. Depois, negoceiem com o Estado Islâmico.

 

Esta última solução é difícil de adoptar, pois o Estado Islâmico é representante de uma das facções religiosas islâmicas em luta fratricida. Aqui, são os próprios islâmicos que impedem uma solução e foram os ocidentais que, não percebendo nada de nada do mundo islâmico, lá se foram meter em nome do petróleo! Meteram-se para desfazer as ditaduras que continham a luta fratricida islâmica! Deixou de ser conduzida por ditadores para passar a ser conduzida por malfeitores! Lindo! E tudo em nome da democracia! Ou melhor dizendo, em nome do petróleo!

 

Quando é que os políticos deste mundo - bem como os comuns "opinadores" políticos - metem na caixa encefálica que as ditaduras, se existem, são consentidas pelos povos que as suportam, pois, quando as não querem não precisam de ajuda para as derrubar? Será difícil perceber isto e que, se percebido, deixa de haver ingerência na política interna dos Estados?!

01.04.17

1 de Abril de 1973


Luís Alves de Fraga

 

Foi, também, sábado e, por volta das dezassete horas, estava eu e a família preparados para embarcar no Boeing da Força Aérea rumo a Moçambique, com escala por Luanda. Ia cumprir a minha segunda comissão militar em África. Desta vez calhara-me ficar no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 31, na cidade da Beira.

 

A viagem foi cheia de peripécias, que já aqui contei. Contudo, o que não me canso de referir é que eu tinha a plena consciência e certeza de que aquela seria a minha última comissão de serviço nas colónias! Última, porque se tinha de caminhar rapidamente para o processo de solução da guerra nas três frentes... e a da Guiné estava a colapsar a grande velocidade.

 

Um ano depois, deu-se a revolta em Lisboa e o fascismo com a sua política de isolacionismo acabou. Mas, ao acabar daquela forma, não dava alternativa a negociações cautelosas para se alcançar "boas" independências! Essas negociações, para terem sido feitas com ponderação e segurança para os portugueses que viviam nas colónias, deviam ter tido lugar durante a ditadura... Nunca em clima eufórico de liberdade e democracia! É isto que não se tem dito! A culpa nem foi dos militares, nem do MFA, nem dos governos democráticos; a culpa foi, mais uma vez, do Estado fascista, pois tinha todas as condições para negociar sem empecilhos e não o fez nem admitiu. Era contra contra Salazar e Caetano que os “retornados” teriam de se revoltar... Revoltaram-se contra quem não tinha mais nenhuma alternativa.

 

Eu assisti, até ao fim, o que foi a "paz" em Moçambique e o que foi a debandada dos europeus. Samora Machel, diga-se, em abono da verdade, quanto mais avançava de Norte para Sul, mais inflamava os ódios e o sentimento de insegurança. A euforia da vitória - porque ele foi um vitorioso - "subiu-lhe à cabeça" e tornou-o pouco cauteloso. Joaquim Chissano era o contra-ponto de Machel. O que aquele tinha de cauteloso e ponderado tinha este de exaltado e intransigente.

 

Regressei a Portugal semanas antes da independência. Estiva até ao limite do possível a acompanhar o nascimento de um novo Estado e a acabar o ciclo que o meu Avô tinha começado, no século XIX, com a participação nas campanhas de pacificação. Em Lisboa, foi o choque de um país a reivindicar sem tom nem som, sem cultura democrática e sem rumo. E tudo isto conduzido por gente - políticos - que de governação não tinham qualquer experiência. E tudo isto envolvido no medo atávico do marxismo, do comunismo. Tudo isto feito sem se perceber a diferença entre a extrema-esquerda e a esquerda cautelosa. Mil novecentos e setenta e cinco, na segunda metade, foi o tempo de todos os medos, o tempo de todas revoluções, de todos os sonhos. Foi o tempo de todas as confusões, mas também o tempo de todos os oportunismos.

 

Há quarenta e quatro anos eu sabia que era a última vez que ia em comissão militar para África, mas não calculava a dimensão de tudo o que aconteceu depois...

Felizmente, aconteceu...