Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

14.09.15

Voltem à Pátria


Luís Alves de Fraga

Emigrantes.jpg

 

Vi, na Internet, uma notícia com a chancela da "Notícias ao Minuto" na qual se dá conta de que António Costa pediu aos emigrantes qualificados, os chamados "cérebros", para voltarem a Portugal, à Pátria.

 

Agora, quem está a fazer de todos nós parvos é o candidato socialista!

Voltarem para fazerem o quê e onde?

Vamos lá tentar perceber este "fenómeno" que parece afligir tanto os políticos como os eleitores.

 

Quais são (ou foram) as razões ou motivos para emigrar de Portugal?

Ou falta de emprego e consequente falta de rendimento, ou, raramente, razões religiosas, ou, em determinados contextos, razões políticas.

Deixemos as duas últimas de lado, por serem residuais, e fixemo-nos na primeira.

 

Desde 1415 que Portugal é "exportador" de gente, mas, para sermos mais precisos, desde 1498, depois da chegada de Vasco da Gama à Índia, a atracção pela emigração foi aumentando em crescendo (comprovação desta afirmação? Leia-se Gil Vicente).

E porquê terá sido assim?

Porque as actividades lucrativas ou mesmo de mera subsistência eram poucas no país. A "aventura" de ganhar a vida lá por fora constituía uma tentação para quem tinha mau passadio cá dentro (leia-se Fernão Mendes Pinto). E, depois do Oriente, no século XVI, veio, no seguinte, o Brasil como grande motivador da emigração, que se acentuou no século XVIII, com a descoberta de filões de ouro e pedras preciosas. No século XIX, a procura por terras de fixação para quem tinha dificuldades, continuou.

 

Caravela.jpg

 

 

Mas vamos penetrar um pouco mais neste fenómeno, exactamente, no século XIX.

Quem é que emigrava? Os pobres, os ricos ou os fracamente remediados?

E temos aqui a primeira surpresa! Não eram nem os ricos nem os pobres! Eram os fracamente remediados. E por um único motivo: o ponto de fixação desta gente ficava no outro lado do Atlântico, nas Américas, e para lá chegar tinha de se pagar uma passagem de barco! Então, os emigrantes vendiam as poucas leiras que possuíam e faziam-se, geralmente com a família, ao mar; quando as não tinham para vender socorriam-se do crédito junto de quem emprestava (e não se empresta dinheiro a quem não oferece garantias de o pagar!) e, a breve trecho, depois de muito labutar, ganhavam "carta de alforria", após a liquidação da dívida. E tudo foi assim em Portugal até à ocorrência de dois fenómenos sociais quase concomitantes: o "boom" económico europeu após a criação do mercado único e a eclosão da guerra colonial.

 

Mas onde é que está a mudança, para se estabelecer a diferença?

A aceleração económica deu-se na Europa, facto que tornou imensamente mais barata e fácil a deslocação dos emigrantes e, assim, alterou-se qualitativamente o tipo de emigração, pois passaram a procurar a estranja os pobres e alguns remediados. A confirmação deste facto é visível no Alentejo: nunca antes os alentejanos emigraram para lado nenhum (coitados, vinham para o Barreiro, na esperança de encontrar trabalho na CUF) e passaram a fazê-lo para França, Luxemburgo e Alemanha, nos anos 60 do século XX.

A guerra colonial levou para Angola e Moçambique muitos jovens que, depois de cumprido o serviço militar, em face da promessa de uma vida melhor, função de horizontes mais largos do que os do seu rincão natal, resolveram fixar-se por lá. E não foi despiciendo esse segmento da emigração nacional (há quem não lhe chame emigração e prefira o termo migração por razões ideológicas, que não vêm agora ao caso).

Chegamos a 1975, ao tempo da democracia e ao tempo, também já chamado, do "regresso das caravelas", porque se descolonizou. Portugal teve de absorver os "retornados", que, em muitos casos e em muitas localidades, representaram "sangue novo" no empreendedorismo quase inexistente.

 

Como se vê, ao longo dos séculos, a "qualidade" dos emigrantes foi mudando de acordo com factores motivacionais, financeiros e geográficos.

A adesão à CEE conjugada com a democratização e a assunção da necessidade de elevar o nível educacional da população portuguesa e, ainda, a tendência para a gratuitidade do ensino, provocou dois tipos de fenómenos simultâneos: por um lado, o abandono gradual da agricultura e a consequente desertificação do interior do território nacional, e, por outro, a corrida ao ensino superior, função de novas perspectivas de emprego (professorado, saúde, assistência social, justiça, empresas, desenvolvimento infra-estrutural - rodovias, electrificação, congelação, construção civil, etc.) que geraram a ilusão de uma constante absorção de novos graduados num mercado de trabalho elástico.

É fácil de ver que a velocidade de formação de gente habilitada com cursos superiores é exponencialmente maior do que o abandono de postos de trabalho por se ter atingido o limite de idade útil. Assim, em duas dezenas de anos, após 1975, começou-se a notar o crescimento da oferta de gente licenciada para uma significativa redução de postos de trabalho qualificado. E esse sinal começou a ser dado exactamente na área do ensino, através de excedentes de docentes, depois sentiu-se na advocacia, na justiça e no notariado. Três décadas depois de 1975 foi a vez dos excessos nos domínios das engenharias tradicionais (civil, electrotécnica, química e mecânica). Entretanto, as universidades públicas, função de três factores — redução dos orçamentos dotados pelo Estado; aumento do número de estabelecimentos públicos politécnicos e aumento da concorrência privada — entraram na euforia da diversificação de cursos cujo mercado de absorção é constituído por pequenos nichos (várias variantes de gestão, variantes das ciências biológicas e do ambiente, enfermagem, fisioterapia, educação física, psiquiatria, publicidade, designer, jornalismo, farmácia, etc.), dando origem a expectativas de emprego que, de ante mão, percebia-se, esgotar-se-iam facilmente.

Houve um curso que, função da pressão da Ordem profissional, fugiu a este tipo de entusiasmo e que, por causa disso mesmo, é ainda deficitário na conjuntura nacional e sobre o qual pouco ou nada se fala em termos de emigração: medicina. Se alguma crítica há a fazer ela passa pelo exagero de contenção formativa.

Então, em função do panorama descrito, o superavit em gente qualificada academicamente teria de desembocar na emigração, gerando, mais uma vez, uma mudança qualitativa do tipo humano migrante em Portugal.

Sala de Aula.jpg

Julgo que terei explicado a razão deste novo padrão de emigrantes e, assim, a completa idiotia de convidar ao regresso a Portugal dos novos "aventureiros" do século XXI. A única coisa sensata que qualquer candidato a deputado poderia prometer sobre este assunto era a honesta tentativa de reequilibrar a formação de técnicos superiores, adequando-a ao mercado interno e às suas características ou, também como solução alternante, gerar no país a absorção dos excedentes, através da prática de uma política de planeamento educativo, sem nunca coarctar a iniciativa privada, mas regulando-a e regulamentando-a.

Já agora, e como mais uma achega ao candidato António Costa, dê emprego no PS e nos ministérios — se chegar a ser Primeiro-Ministro — a sociólogos suficientemente habilitados para lhe estudarem os problemas políticos e sociais de modo a legislar-se com prudência e um mais esclarecido conhecimento dos assuntos.

13.09.15

“Roupa velha” ou pormenores que se não sabem


Luís Alves de Fraga

Ontem deixei em comentários à minha exposição alguma informação que, julgo, merece aparecer mais destacada e mais legível por quem esteja interessado em perceber pormenores que fazem toda a diferença num tempo de eleições.

Aqui ficam esses retalhos com alguns acrescentos para lhes dar maior possibilidade de compreensão.

(NOTA: Este texto foi inicialmente escrito para o meu mural no Facebook. Assim se justifica esta introdução).

 

A Caixa Geral de Aposentações (CGA) nada tem a ver com a Segurança Social, porque esta se destina a prover pagamento de pensões e subsídios aos trabalhadores de empresas privadas e aquela tem como finalidade pagar pensões aos servidores do Estado, isto é, à função pública, ou seja, a quem tem como “patrão” o Estado.

 

O modelo estrutural da Segurança Social pode manter-se, e é conveniente que se mantenha, bastando para tal que se reforme o modo de financiamento desse organismo.

Note-se que para a Segurança Social a ENTIDADE EMPREGADORA CONTRIBUI COM FINANCIAMENTO e, ao contrário, para a CGA o Estado não se obriga a igual contribuição. Qual a lógica deste facto?

É simples! Desde sempre, os funcionários do Estado, tendo como fonte de rendimento exclusivamente o seu vencimento, não estavam, como é racional, sujeitos ao pagamento de imposto sobre o seu salário!

Para se compreender este facto imagine-se a situação caricata de qualquer um de nós ser empregador e ter o seguinte diálogo com um empregado:

— Eu pago-lhe mil euros por mês, mas, porque lhe dou assistência médica para si e para a sua família, o senhor vai-me pagar esse benefício entregando-me duzentos euros.

Naturalmente o empregado, porque não é parvo, faz outra proposta:

— Não me pague mil euros, mas somente oitocentos, pois, na verdade, será esse o meu salário mais a assistência médica para mim e para a minha família!

Mas, como sou um empregador “espertalhão”, não aceito a proposta do empregado, porque sempre que as despesas de assistência médica aumentarem eu aumentarei o valor da entrega que ele me terá de fazer para ter o direito que lhe proporciono. Ou seja, de cada vez que as despesas de assistência médica aumentarem eu, na verdade, reduzo o salário do meu empregado, obrigando-o a fazer o mesmo trabalho por menos dinheiro!

Não nos esqueçamos desta conversa e continuemos.

 

Com a adesão de Portugal à CEE, os funcionários públicos passaram a pagar IRS como se não fossem empregados do Estado, ou, melhor dito, como se o Estado SE MANTIVESSE IGUAL AO ESTADO ANTERIOR À ADESÃO À CEE.

Como se percebe, o Estado na CEE, ou na União Europeia, tem um estatuto diferente do Estado antes da CEE. E porquê? Porque ao obrigar os seus “empregados” a pagar imposto sobre rendimentos do seu trabalho se desdobrou em duas entidades distintas: o “Estado patrão” e o “Estado mecanismo de gestão pública, política e social”. É nesta última condição que o Estado obriga ao pagamento de impostos aos seus funcionários. E, nesta condição, o Estado português tornou-se VIGARISTA! Vigarista, porque não exigiu a si mesmo a condição de “Estado patrão”, isto é, não passou a contribuir para a CGA da mesma forma que as entidades patronais privadas contribuem para a Segurança Social. Em conclusão, o Estado antes da adesão à CEE era claramente honesto deixando de o ser depois!

Assim, já se pode perceber por que é que qualquer imposto sobre o rendimento de um pensionista da CGA ou sobre um trabalhador do Estado não é, na verdade, um imposto, mas sim uma redução de salário! É isto que não se discute onde e quando deve ser discutido. Mas há mais! Em 2005 o Estado fez sair legislação que conduz, a longo prazo, ao desaparecimento da CGA, pois que concentrou os descontos para a reforma dos seus funcionários na Segurança Social equiparando-se, assim, a qualquer empregador privado, mas eximindo-se às obrigações que estabelece para este último. Ou seja, se já não era honesto antes de 2005, passou à total desonestidade a partir dessa data. Contudo, a proposta de reforma de financiamento apresentada pelo PS no programa de actuação, se formar Governo, sendo substancialmente diferente da do PPD, tenta de alguma forma corrigir essa situação, como veremos de seguida (convém ler o que escrevi antes sobre plafonamento).

 

O modelo estrutural da Segurança Social pode manter-se, o que não se pode manter é a forma de o financiar. E isso é diferente.

É nisso que o PS apresenta uma proposta distinta porque baseia o financiamento da Segurança Social na cobrança de impostos. Ou seja, em vez de serem só as entidades empregadoras a contribuir para a Segurança Social e mais os trabalhadores, passamos todos a contribuir para a dita Segurança Social, o que é justo, pois quem trabalha não o faz só para a empresa, mas para toda a sociedade, porque as empresas é que sustentam a economia nacional. Deste modo, a pensão na velhice deixa de ser o resultado dos descontos individuais e empresariais, para passar a ser uma obrigação social, porque em qualquer emprego se trabalha, em último caso e em boa verdade, para o bem-estar da sociedade. Então tem de ser a sociedade a contribuir para a sobrevivência dos que já trabalharam e não o podem fazer por terem atingido uma idade que os incapacita socialmente.

Esta é uma visão socialista do trabalho, da economia, das empresas, dos trabalhadores e dos velhos e incapacitados para darem rendimento à sociedade.

12.09.15

Plafonamento e Fundo de Pensões


Luís Alves de Fraga

 

Ontem vi o debate entre Catarina Martins e Pedro Passos Coelho. Não é disso que hoje venho dar conta, mas tão-somente de um aspecto discutido por eles e também por António Costa: o plafonamento das pensões de reforma!

 

Antes do mais, vou-vos dizer que por baixo deste neologismo está o maior dos embustes, das vigarices, das trafulhices do actual Governo em matéria de salvaguarda dos interesses dos trabalhadores. E eu vou explicar, socorrendo-me de um exemplo com mais de vinte anos e restrito a um grupo de cidadãos limitado. Depois de vos ter contado a história, tirem as vossas conclusões. Vamos a isto.

 

No começo da década de noventa do século XX, o Governo de Cavaco Silva quis reestruturar as Forças Armadas — eufemismo que quer dizer “reduzir efectivos e retirar direitos adquiridos” — e, para tal, aplicado aos militares dos quadros permanentes, estabeleceu limites de idade mais baixos de modo a encaminhar para a situação de reserva todos aqueles que, não sendo promovidos ao posto imediato, chegassem ao termo da carreira.

Dizia-se que se pretendiam umas Forças Armadas com gente “jovem”. Dou-vos um exemplo: um coronel da Força Aérea, se até aos 57 de idade não fosse promovido a general, era, note-se bem, compulsivamente, passado à situação de reserva, ficando a receber uma pensão calculada na base do número de anos de serviço prestado e o número de anos de serviço máximo, que, à época, passou a ser 36 (Pensão = (n.º de anos de serviço x vencimento do posto)/36). A pensão seria paga pelo orçamento da Força Aérea.

Cinco anos depois desta passagem à reserva, ou seja, aos 62 anos, esse coronel transitava obrigatoriamente para a reforma, deixando de ser encargo financeiro da Força Aérea para passar a ser da Caixa Geral de Aposentações (CGA), para a qual havia descontado sempre até àquela idade.

Este novo quadro vinha alterar um outro que se definia da seguinte forma simples: até aos 70 anos de idade a pensão de reserva era encargo do orçamento da Força Aérea e só a partir de então passaria a ser da CGA. Ou seja, o Estado, com a nova legislação de Cavaco Silva, “empurrou” para a CGA, mais cedo, todos aqueles que até àquela altura pesavam no seu orçamento. Como, segundo o estatuto anterior, o tal coronel passaria mais tarde à reserva e veria, todos os anos, actualizada a pensão para os valores auferidos por um coronel na situação de activo até chegar aos 70 anos, ele, de acordo com o novo estatuto, ficava condenado ao desgaste da inflação podendo ver reduzida a pensão para valores quase ridículos antes daquela idade.

Qual foi a ideia “luminosa” do Governo Cavaco Silva (curiosamente do PPD, também)?

Simples: a criação de mais um desconto voluntário para o chamado Fundo de Pensões que, note-se bem, seria gerido por uma entidade bancária, a qual se obrigava a repor a diferença da pensão de reforma sempre que esta baixasse para menos de 80% do valor do vencimento de um coronel na situação de activo. Para reforçar financeiramente esse Fundo nele dariam entrada as verbas obtidas com a venda do património imobiliário das Forças Armadas.

À partida, o “negócio” parecia bom para todas as partes e, também, especialmente para o Estado e para a entidade bancária gestora do Fundo, pois a CGA não perderia nada e os militares reformados iriam vendo reposto o seu poder de compra, evitando cair em situações de quase indigência se persistissem em viver muitos mais anos para além dos 70.

 

Repare o leitor na semelhança deste projecto com o do plafonamento tão bem explicado por Pedro Passos Coelho: os trabalhadores com salários elevados ficam a receber, quando reformados, uma pensão de miséria paga pela Segurança Social e um diferencial de valor significativo pago por uma entidade bancária gestora do desconto voluntário, numa determinada percentagem do salário, que o empregado faça. Tal e qual as linhas mestras do Fundo de Pensões dos militares! Até parece que o modelo foi soprado pelo ministro das Finanças de Cavaco ou por Fernando Nogueira, ministro da Defesa da altura.

 

Mas, qual foi o resultado do Fundo de Pensões dos militares criado no início dos anos noventa, ou seja, há coisa de duas décadas e pouco?

(Porque não consigo dar outro destaque à grafia das letras, tenho de usar as maiúsculas)

FALIU!!!!!!

Faliu e a única compensação, que os militares nele inscritos e para ele descontaram, foi receber de volta, em singelo, o somatório dos seus descontos sem se ter levado em conta que o dinheiro vence juros conforme o tempo em que um gestor o tem na sua mão!

 

Meus Amigos, o fim do plafonamento vai ser este mesmo! Mais vinte ou trinta anos sobre a sua instituição, vai ser a FALÊNCIA. E quem descontou, no máximo, pode ver de volta somente o somatório dos seus descontos!

Convém, antes de votar, perceber em quem se vota e no tipo de promessas que são feitas por parte daqueles que não mostram o “jogo”, nem os números, nem nada!

Daqui por vinte anos, se calhar, já “tem-te Maria não caias”, está Passos Coelho sentado na cadeira do palácio de Belém e toda a gente se esqueceu de que foi ele o autor do plafonamento!

Querem apostar?

10.09.15

Costa e Coelho no debate


Luís Alves de Fraga

 

Vi em directo o debate dos dois "combatentes" empenhados, um, na "conquista" das cadeiras do Governo, outro, na manutenção do direito a continuar com o rabo nelas sentado.

Não careci de ouvir os comentários que, segundo me constou, se seguiram ao debate, para tirar as conclusões sobre quem se "portou" melhor, ou seja, quem merecia levar para o seu partido a "taça" da vitória, se houvesse taça como troféu. Desliguei a televisão e vim para o meu escritório dar andamento a assuntos pendentes. Chegou, agora, o momento de partilhar com os meus Amigos a minha opinião, se tiverem paciência e interesse em a conhecer.

Com alguma admiração, quando os dirigentes de todo aquele "arraial" deram por finda a "festa", disse de mim para mim: "O António Costa deu uma excelente "sova" no Passos Coelho".

E deu. Disso não tenho a menor dúvida!

 

Resta, contudo, perceber se "jogaram" com uma "bola de trapos" ou, como se dizia quando eu era menino, com uma "bola de cauchu" feita do melhor látex das melhores artocarpáceas brasileiras.

Depois de meditar sobre o que me ficou mais preso no ouvido, acho que a "bola" tinha nas entranhas retalhos rotos de tecidos de fraca qualidade, embora fosse revestida de uma resistente meia de nylon das que melhor aspecto têm e que fazem os encantos das damas que as podem usar.

Vejamos.

 

António Costa foi buscar a António José Seguro a qualidade que lhe marca a postura política: o discurso sério, ausente de demagogias, ornado de uma patine que demarcou o antigo Secretário-Geral do PS do comum dos políticos nacionais. Numa palavra: seriedade. E isso esteve bem patente na continuada afirmação de que não fazia promessas sem estar de posse dos dados definidos nos dossiers; limitava-se a indicar objectivos.

Passos Coelho, para não perder o pé, cometendo o mesmo erro da eleição que fez dele Primeiro-Ministro, não quantificou nem fez promessas, valendo-se de dois "dribles" para fintar António Costa, o mesmo é dizer, o eleitorado português: primeiro, critica até à exaustão o Governo de Sócrates e cola António Costa ao modelo de governação daquele; segundo, não concretiza numericamente nenhuma das mais importantes decisões que se perfilam no horizonte e que, com matreirice, já "armadilhou" de modo a prolongar no tempo a sua governação, embora possa já não ser Governo.

 

Disto ressaltou que Costa, estando sempre ao "ataque" no "terreno" de Passos Coelho, "jogou" à defesa no "relvado" do eleitorado, de modo a, não se comprometendo, deixar aberta a porta para se perceber quanto pode fazer de diferente se for Primeiro-Ministro. E, para reforçar esta posição junto do eleitorado, não se poupou a referir a boa gestão que fez quando foi autarca. Quando já tinha percebido que Passos Coelho não tinha qualquer tipo de "ponta-de-lança" para colocar em perigo a sua "baliza", "rematou" a "bola de trapos" de modo a "furar a rede" do adversário quando desmascarou e desmontou a política governamental do Primeiro-Ministro, feita de promessas vãs e aparências, chamando à colação as normas estabelecidas para o regresso dos jovens academicamente qualificados que ganham a vida no estrangeiro. Foi um "tiro" de mestre. Passos Coelho tentou retribuir o "chuto", contrapondo à boa gestão autárquica de Costa a origem dos dinheiros por este usados para saldar dívidas camarárias, mas foi um "golo" na própria "baliza", pois Costa deixou claro que esse numerário provinha da venda dos terrenos que eram da Câmara e serviam para neles estar implantadas as infra-estruturas da ANA!

 

António Costa soube aproveitar ao máximo o debate para deitar por terra Passos Coelho e mostrar aos Portugueses as artimanhas da governação deste último. Eis a razão pela qual o Primeiro-Ministro fugiu a todos os debates televisivos: no curto espaço de tempo, para dar respostas rápidas e concisas, ele, que é um "bom" "jogador" por ter fôlego para grandes "corridas" no "relvado" retórico, fica bloqueado quando se lhe exige um "remate" curto, certeiro e feito a pouca distância da "baliza" do adversário.

 

O debate era necessário? Claro que era! Não exclusiva e principalmente para mostrar o programa do PS, mas para mostrar as incapacidades, as aldrabices e os malabarismos da coligação que nos governou e nos desgraçou, pois, em vez de se limitar a cumprir as obrigações impostas pela Troika, levou-as muito mais longe, porque em causa estava o cumprimento de um ideal político: o desarmamento do Estado para entregar à iniciativa privada todos os mecanismos estratégicos da nossa economia.
Daqui para a frente o PS adquiriu condições para poder vir a formar Governo com alguma margem de manobra, não porque tenha conseguido impor o seu programa, mas porque, derrubando Passos Coelho, como derrubou, deixou evidente que só os socialistas podem ser alternativa à aldrabice da coligação.

 

O PS vai governar melhor e vai repor a situação económica e social que o PPD/CDS destruiu? Não! Vai, no máximo, se tiver uma boa pressão dos partidos à sua esquerda, suavizar a vida dos Portugueses. Mas, para que seja possível “empurrar” António Costa para a prática de uma política de menos austeridade, o nível da abstenção tem de descer significativamente e a esquerda tem de estar disposta a dialogar com o PS, tendo em vista um apoio parlamentar que lhe vai fazer falta.

06.09.15

O circo está montado


Luís Alves de Fraga

 

Pronto, a tenda do circo por onde se passeiam os mirones, está montada e esticada!

 

Estou, naturalmente, a referir-me ao espectáculo — triste — das televisões e das rádios junto à residência onde está a habitar, em regime de prisão domiciliária com guarda à porta, José Sócrates!

 

A cena triste e ridícula da entrevista a um pobre trabalhador que foi entregar comida mais ou menos fora de horas estabeleceu o paradigma do tipo de espectáculo que vamos ter durante uns dias. Assim, com o treino de ontem, hoje "atacaram" — digo "atacaram", porque, na verdade, foi um "ataque" — Mário Soares, quando, logo de manhã, foi cumprimentar o prisioneiro com guarda à porta. E as televisões não se cansam de mostrar essa demonstração de palermice jornalística.

 

Por onde andará a inteligência destes repórteres e a dos chefes de redacção que os mandam ficar de plantão na rua à espera de notícias?

Massacraram o velho Mário Soares, em estado de decrepitude notório, como se ele fosse um jovem político imprudente que deixasse escapar mexericos — sim, mexericos — falados no apartamento do antigo Primeiro Ministro. Quase não deixavam caminhar o inseguro antigo Presidente da República que, para lição dos pseudo jornalistas, às idiotas questões colocadas nada respondeu. Não respondeu Mário Soares, nem responderá ninguém que vá visitar José Sócrates. Quem lá vai não tem o intuito de alimentar o diz-se diz-se que meio mundo de pategos está à espera de ouvir!

Façam perguntas inteligentes!

 

A indigência laboral dos repórteres leva-os a fazerem tudo para agradar aos chefes de redacção dos respectivos órgãos de comunicação; a indigência intelectual dos chefes de redacção leva-os a mandar os repórteres ficarem de plantão à espera do lá vem um e, todos em conjunto, fazem, ou querem fazer, de todos nós gente tão parva como eles!

Isto não é jornalismo! Isto é alienação colectiva!

 

E porque todos procuram alienar todos, os políticos em campanha eleitoral falam para todos nós como se fossemos tontinhos, patetas, atrasados mentais! E, se calhar, somos! Porque isto de todos os dias vestir de almirante um porco, acabará por levar o porco a convencer-se que é almirante e levar-nos-á a convencermo-nos de que o porco é almirante!

 

Deixem o Sócrates viver a sua reclusão domiciliária em paz! Deixem em paz quem o vai visitar! Não alimentem a opinião pública com merdice! Aprendam a fazer melhor ou, se não sabem ou não são capazes, não façam nada!

Continuar Portugal assim, é que não! Já chega de palhaçada!

04.09.15

Migrações


Luís Alves de Fraga

 

Não tomo posição sobre o flagelo que ocorre todos os dias nas zonas fronteiriças da Europa, porque ainda não me documentei o suficiente para aceitar ou condenar a corrida em massa ao Velho Continente por parte de povos que lhe são vizinhos. Mas, no encalço de um posicionamento pessoal sobre o assunto, ocorre-me a ideia do absurdo histórico que representa uma migração sobre a Europa.

Porquê? Explico.

 

Desde o século XV que a Europa é um território "exportador" de gente para todas as partes do mundo. Só recuando ao início do século VIII é que nos damos conta do último movimento migratório sobre a Europa, quando, através dos desentendimentos políticos e dinásticos na Península Ibérica, se verificou a invasão islâmica vinda do Norte de África, que foi travada em Poitier. E tratou-se de um movimento migratório solicitado como apoio militar! Depois disso, no final do século XV, com a tomada de Constantinopla, sentiu-se a ameaça de uma nova invasão (migração iniciada por uma guerra, tal como a do século VIII) dirigida pelos Turcos no exercício de uma conquista territorial.

 

Ora, foi com os Descobrimentos que se iniciaram movimentos migratórios, primeiro, caracterizados por conquistas ou actividades comerciais e, depois, por ocupação de terras em grande extensão. Foram sempre movimentos "contra natura" e provocadores de vários tipos de fenómenos culturais (aculturações, genocídios, miscigenações) que se repercutiram, sobre migrantes e residentes (neste último caso, de forma violenta). Mas, de tudo isto, ficou uma memória histórica e social: o vazamento da Europa no mundo foi uma consequência dos abismos económicos e financeiros nos diferentes povos europeus ou de perseguições religiosas, pois se o Velho Continente fosse suficientemente paradisíaco para quem por cá vivia, só o espírito de aventura justificaria raras e excepcionais tendências migratórias.

 

Posto isto, parece, é possível extrair singulares conclusões:

1. A Europa, desde o século XV, não foi uma zona geográfica de fixação de povos migrantes;

2. A Europa, desde o século XV, foi uma zona geográfica geradora de movimentos migrantes sobre todos os restantes continentes;

3. Na Europa, os movimentos migrantes rumo a outros continentes foram ditados por questões de diferenças de natureza económica ou religiosa, sendo que os migrantes procuraram sempre uma melhoria de condições sociais e económicas nos territórios de acolhimento;

4. O movimento migratório com origem na Europa deu sempre origem a confrontos culturais, normalmente muito dolorosos para os povos que acolhiam ou se tinham de vergar à vontade dos migrantes.

 

Colocada a questão da experiência migratória dos europeus enquanto migrantes, podemos partir para a análise da atitude a ter quando a Europa se torna ela na zona de acolhimento de povos migrantes.

Esta será a reflexão que terei de fazer para poder tomar posição sobre o assunto.