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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

06.04.15

Presidenciais


Luís Alves de Fraga

 

Parece que o Prof. Sampaio da Nóvoa já deu a conhecer a vontade de se candidatar à Presidência da República.

Não vou condenar nem apoiar. Vou interrogar-me, porque, li, também terá tomado como modelo de Presidente da República a figura de Ramalho Eanes. E é aqui que bate o ponto, quanto a mim!

Quem é um e quem era outro?

Não. Não se trata de uma análise de carácter intelectual. O que procuro avaliar é o “tempo” que possibilitou a eleição de Eanes e o tempo que poderá, ou não, levar à eleição de Nóvoa. O que procuro avaliar é o fundamento da adopção do “paradigma Eanes”.

 

Eanes era pouco menos que um obscuro major de infantaria que, na sequência do 25 de Abril de 1974, passou pela administração da Rádio Televisão Portuguesa e deixou a imagem de um militar equilibrado, mas homem de poucas falas e poucos sorrisos. Depois, surge como o homem do 25 de Novembro de 1975 que “salva a democracia” em Portugal. Continua a ser uma figura esfíngica, quase muda, de quem não se arranca um projecto ou uma ideia que vá para além do desejo de ver concretizada uma democracia pluralista em Portugal. É o homem “mistério” em oposição aos candidatos “palradores” e convenientes à direita ou à esquerda. E direita e esquerda estavam ainda muito misturadas. É o homem “mistério” que tem por trás de si as Forças Armadas e o Conselho da Revolução. É o homem que promete equilíbrios e consensos, mas quase não os enunciando. É o homem do rigor militar num país onde os militares ainda tinham uma imagem de marca fosse para os cidadãos de direita ou de esquerda. Ramalho Eanes era, foi, um homem de rumos! Mais do que um timoneiro foi um piloto!

 

E como era ou estava Portugal?

Pois, aí surge uma outra diferença e não pequena: Portugal mal conhecia os seus políticos e os políticos, em boa verdade, mal conheciam os Portugueses. A confusão era muito grande! Muito romantismo pairava nos ares e muita gente ainda não se desiludira. Fosse à direita ou à esquerda!

Mas de que direita é que estou a falar?

Pois, aqui está, mais outra questão que merece uma paragem.

Havia uma direita que se tinha colado ao CDS onde se acoitavam os fascistas apoiantes do anterior regime. Um presumível centro-direita — o PPD — que albergava, realmente, a direita com alguns desejos de mudança e de democraticidade, desde que se mantivessem os comunistas afastados da governação. Havia um centro-esquerda — o PS — que ansiava por ser o grande condutor do país à social-democracia com a qual ainda se sonhava. Depois, havia a esquerda dita “consequente” que agrupava o PCP e os seus partidos “gravitacionais”. Por fim, uma extrema-esquerda donde se sobressaía a UDP com voz na Assembleia da República e que agrupava os sonhos e ideias de uma esquerda populista e popular.

Ramalho Eanes, com a postura militar, a ausência de discurso político e a imagem de comando e liderança que havia conquistado na tarde e noite de 25 de Novembro de 1975, foi eleito Presidente da República em Junho de 1976.

 

E, agora digam-me, quem é que Sampaio da Nóvoa tem por trás? Onde e como encaixa esta personagem na de Ramalho Eanes? Como é que o Portugal de hoje se pode comparar com o de há quase 40 anos? E os partidos políticos? E o empenhamento dos Portugueses de há 40 anos pela democracia e vida política e os de hoje?

 

Ora bem, quanto a mim, Sampaio da Nóvoa começou a tentar já o primeiro “golpe” publicitário com a mais que hipotética colagem a Eanes! E é uma colagem que me não agrada, pois denota um “jogo” com a falha de memória colectiva dos Portugueses e não com a honestidade do discurso de Ramalho Eanes, que, realmente, primava pelo silêncio e o sintetismo castrense.

Eanes doutorou-se e Nóvoa não se militarizou!