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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

13.10.14

Os "donos" dos hospitais militares


Luís Alves de Fraga

Recordo-me de, quando era muito menino, a figura central do Hospital de Marinha ser a do Senhor Fiscal. Era um segundo-tenente do Serviço Auxiliar oriundo da classe de sargentos enfermeiros. Não sei, com exactidão, quais as funções que desempenhava, mas sei que mandava na enfermagem e que os enfermeiros eram os elementos de maior suporte do Hospital. Havia o médico de serviço ao banco, mas todos os restantes, depois de cumprido o horário, retiravam-se para os seus consultórios onde completavam os ordenados de oficiais de Marinha. O Hospital ficava entregue aos enfermeiros de vela!

 

Vem esta recordação ao caso, porque, entre nós, se falou de saúde militar, esquecendo o papel fundamental dos enfermeiros nesse complexo que está presente em todas as situações em que o militar ou a sua família carece de serviços sanitários, desde o hospital até à tenda de primeiros socorros em campanha. O enfermeiro já não é o tipo que só sabe fazer pensos e dar injecções e cumprir sem perceber as ordens do médico! O enfermeiro é, cada vez mais, um precioso auxiliar deste, porque está em permanência à cabeceira do enfermo e sabe, e deve, transmitir ao clínico as alterações que exigem a sua intervenção. Hoje em dia não é enfermeiro quem quer, mas quem tem vocação. Isso mesmo já o meu pai — enfermeiro da Armada — afirmava, em 1944, no Arquivo do Enfermeiro, n.º 11, do mês de Março, nas páginas 19 e 20, num artigo intitulado “Posso ser enfermeiro? Considerações sobre a orientação na escolha da profissão” citado por Ana Isabel Silva, na obra A Arte de Enfermeiro: Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra no ano de 2008. Há setenta anos ele preconizava testes psicológicos de selecção vocacional.

O enfermeiro militar é o elemento de saúde de primeira linha: ele está entre as tropas de assalto tal como no hospital de retaguarda; ele faz o primeiro diagnóstico e indica o primeiro socorro. A saúde militar não é só um assunto de médicos e de altas patentes militares. É um tema que tem de ser discutido de raiz e nela está o enfermeiro.

 

Os hospitais, para serem o que se pratica ainda em alguns países, deviam ter uma direcção clínica e uma direcção funcional; ocupava-se da primeira um médico, porque a sua competência se orienta para a acção terapêutica, e, da segunda, um enfermeiro devidamente habilitado, porque a sua acção se orienta para a subsistência da instalação e dos seus ocupantes na ausência do médico; é ele quem sabe quantos e quais os meios necessários à boa gestão técnica e funcional da unidade hospitalar. Claro que pode haver um administrador, mas esse só lida com as disponibilidades financeiras e um hospital é muito mais que uma questão de dinheiro!

 

A saúde militar não se confina ao tempo de paz e ao hospital e, neste, aos doentes internados, às consultas externas, aos militares no activo, na reserva e na reforma bem como às suas famílias; o hospital é a unidade de recuperação na retaguarda para quem se entrega ao esforço do combate; é o local onde se concentram diligências para tratar todos quantos já receberam os primeiros apoios nas unidades de saúde da frente; mas é também o estabelecimento onde, pela diversidade de enfermidades que por lá passam, dá experiência ao pessoal para alcançar conhecimentos e treino que só beneficia os mais carenciados de cuidados clínicos. E neste treino é angular a figura do enfermeiro que, muitas vezes, colmata silenciosamente as falhas do médico ou o auxilia dando-lhe o apoio nas decisões a tomar.

 

É tempo de, entre nós, ao enfermeiro militar ser reconhecido o seu papel fundamental na saúde, tanto quando empenhado em operações e treinos no campo como, especialmente, dentro do hospital. Há hierarquias técnicas e hierarquias castrenses e, na minha opinião, as primeiras não têm que estar subordinadas à rigidez das segundas, porque podem caminhar a par e passo, completando-se tal como se completam para cumprir o dever mais sagrado a ambos: salvar vidas e ajudar a morrer bem.

10.10.14

Já estamos cozidos


Luís Alves de Fraga

 

Vem-me à lembrança a história da rã que, se metida em água a ferver, dá um salto e escapa-se da cozedura imediata, mas, se metida em água fria, que alguém aquece lentamente, se vai habituando à subida de temperatura e acaba, sem dar por isso, cozinhada nessa água, a princípio tépida e no fim, fervente. E vem-me à lembrança por causa dessa extraordinária manifestação “espontânea” e “inorgânica” ocorrida poucos meses depois da tomada de posse deste Governo de coligação eleito pelos votos de muitos portugueses! A manifestação que, por todo o país, pôs multidões na rua foi o “salto da rã escaldada”! Os governantes estiveram-se nas tintas para o salto; “arrefeceram a água” puseram a rã lá dentro e foram aumentando a temperatura até cozer os Portugueses sem qualquer queixume destes!

 

É verdade! Foi-se embora a Troika, mas, função disto e daquilo, tudo continuou a piorar – só melhorando aos olhos vesgos dos governantes incapazes de olhar a realidade à nossa volta – e estamos agora pior do que nunca!

Justificações?! Há-as em abundância, mas essa abundância não põe pão na mesa dos mais desfavorecidos, nem lhes repõe os cortes salariais ou de pensão e, menos ainda, arranja emprego aos desempregados!

A “Grande Rã” que, por acaso, dá pelo nome de Portugueses, deixou-se cozer no caldeirão da austeridade!

 

E, pergunto-me: - A discórdia no Partido Socialista e a ruptura no Bloco de Esquerda e o eurodeputado, eleito por um partido, que agora funda outro, não serão “bons toros de madeira” deixados no fogo que aquece o “caldeirão” onde está ainda a cozer a “Grande Rã”?

É que não precisamos de cisões partidárias nem de mais partidos! Do que precisamos é de quem ouse tornar slogan o verso de José Afonso: «O que faz falta é animar a malta»! Animar a malta a vir para a rua, a subir as escadas do Parlamento, a desobedecer, tendo à frente as forças de segurança civil, a não dar aulas, a atender nos hospitais sem cobrar taxas moderadoras, numa palavra: a rebentar com o “caldeirão” e com a “fogueira” que aquece a “água” onde nos estão a acabar de cozer!

 

Mas, esta minúscula “célula” da “pele” da “Grande Rã” que sou eu e o meu escrito, acaba de reconhecer que já pouco ou nada resta do que era esse “bicho” capaz de se manifestar espontaneamente, de subir escadarias do parlamento, de saltar e esbracejar, de gritar!

Já estamos cozidos! E bem cozidos!

09.10.14

A dúvida


Luís Alves de Fraga

 

Estava a ler uma entrevista antiga feita a Maria José Nogueira Pinto e percebi que ela era, de facto, uma democrata-cristã e que fazia do CDS a sua "casa de abrigo" ideológica. Era uma mulher politicamente de direita, mas de uma direita cuja filiação se fixava na doutrina social da Igreja Católica. Era, é, por aí que se resolviam(vem) os problemas dos Portugueses? Julgo que não! Contudo, a ideologia democrata-cristã, no seu apogeu, não me repugna, porque toma o Homem como centro de todas as preocupações políticas e pretende conciliar opostos sem que se façam rupturas. Recordo-me que, na Alemanha do pós-guerra, na Alemanha do pós-Hitler, na Alemanha do pós-holocausto, o partido que conduziu aquela gente à normalidade, tirando-a do pesadelo da Gestapo, das SS e da ditadura nazi, foi o democrata-cristão. A democracia-cristã tinha um programa e um objectivo.

Maria José Nogueira Pinto, Adriano Moreira e, até, Freitas do Amaral tinham um programa que se fundamentava na visão e no entendimento da vida política segundo um paradigma cristão.

 

Mário Soares, socialista, dizia-se, com influências marxistas, congelou e guardou o marxismo e passou a focar a ideologia socialista num modelo que se dizia humanista. Foi o primeiro a despir o PS da sua componente ideológica mais ou menos credível. Tinha, teve e tem medo do marxismo.

Sá-Carneiro queria um PPD que fosse o socialismo sem marxismo, ou seja, uma social-democracia, mas nem conseguiu estabelecer as raízes ideológicas de tal corrente no seu partido, nem tal lhe foi consentido por Mário Soares. Assim o PPD foi o partido da falta de ideologia, de doutrina. Por isso, nele se acoitaram os indecisos, os desgarrados de um salazarismo sem Salazar, os medrosos da própria sombra e, mais que tudo, do comunismo.

 

Álvaro Cunhal foi o homem coerente com a luta de uma vida e com os ideais de um programa e de um partido: fazer a revolução democrática que encaminhasse o povo via ao socialismo... naturalmente marxista e, se necessário, leninista.

 

Portugal, nos anos setenta e oitenta ainda tinha e falava política à luz das ideologias políticas!

E agora? E nos dias de hoje? Os partidos perderam ou perderam-se das ideologias. Todos — já sei que vou ser zurzido pelos comunistas, mas eles sabem que eu tenho razão, embora não possam dizê-lo — não falam na ideologia que os devia alimentar. Claro que os comunistas ainda invocam a luta dos trabalhadores como a bandeira que erguem bem alto, mas a revolução democrática... Bom, essa espera por melhor oportunidade! Mas são, realmente, os únicos que ainda invocam resquícios da sua ideologia para delimitarem o seu combate — um combate que está definido por razões, comandos e linhas que traduzem a negação das ideologias dos restantes partidos.

É essa a razão de batermos palmas às intervenções públicas de Adriano Moreira, por exemplo, de chamarmos troca-tintas a Freitas do Amaral, que se foi deslocando para a posição política que mais próxima podia estar da sua velha democracia-cristã. É essa a razão de colherem aplausos os sindicalistas que são só sindicalistas.

 

Se em Portugal os líderes partidários revisitassem as doutrinas políticas que serviram de matriz à fundação dos seus partidos, se em Portugal houvesse cultura ideológica política que se não confundisse com clubismo, todos os condutores políticos estavam do mesmo lado no combate ao neo-liberalismo, à falta de doutrina política a que a gente da alta finança e mais os seus funcionários de serviço conduziram o país, a Europa e já o globo. Mas todos têm, de alguma forma, as ideologias congeladas ou metidas na gaveta.

Precisamos, como de pão para a boca, do renascimento das lutas ideológicas para que se desmascarem os traidores ideológicos que dão guarida aos senhores do dinheiro.