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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

10.05.13

Humanismo: oremos!


Luís Alves de Fraga

Preocupa-me sobremaneira a forma como os governantes portugueses aceitam as imposições que lhes são feitas em nome de um equilíbrio orçamental e de uma dívida para a qual não contribuímos de consciência plena. Preocupa-me porque, dessa aceitação e do desejo de cumprimento rigoroso da imposição, resultam danos irreparáveis sobre as pessoas: desemprego, carências alimentares, dificuldades sanitárias, perda da habitação e aumento do sentimento de pouca importância social que resulta numa redução da auto-estima individual e colectiva.

 

Dia após dia, mais gente cai em situações de verdadeira calamidade e a indiferença dos governantes é impressionante. É impressionante a preocupação eleitoralista do ministro que se desloca ao local onde ocorreu um acidente em que perderam a vida duas ou três pessoas e o desprezo por todos aqueles que todos os dias se vêem mais perto da morte social por medidas desumanas.

Por onde andam os “bons sentimentos” cristãos ou meramente humanitários de uma gente que não tem rebuço em entrar num templo e fazer de conta que rezam a um Deus cuja espada punitiva os não fere com violência? Por onde andam as educações virtuosas de certos ministros, cujas progenitoras se gabam de lhes ter incutido na infância e adolescência? Está claro que estou a pensar num em especial!

 

O que eu e todos nós vimos é uma soberana e fria indiferença quando essa gente, que no peito transporta números e uma pedra em vez de um coração, anuncia, sem hesitar, a necessidade de deixar sem pão mais uns milhares de Portugueses.

 

Meu Deus – aquele Deus que ainda procuro dentro de mim e na compaixão dos meus semelhantes – porque permitis que os orçamentos sejam mais importantes do que os trabalhadores, as crianças, os velhinhos, os doentes?

Meu Deus, este materialismo dos nossos governantes e da troika, que lhes faz bárbaras imposições, não é muito mais perigoso do que o de certas doutrinas políticas cujo desejo é o da denúncia desta indiferença e correcção destes desvios?

Será que Vós, na Vossa apregoada infinita bondade e infinita justiça, encontrastes razões para nos castigar e fizestes destes governantes o instrumento da Vossa vontade? Será? Será que Vós, na Vossa infinita magnanimidade entendestes que se deve tirar aos desgraçados, que vivem do salário magro e da pensão, que resulta de uma vida de trabalho, para entregar aos gordos banqueiros mais fontes de riqueza e felicidade terrena?

Em consciência, não posso acreditar que o Vosso sentido de justiça seja esse, meu Deus! E não posso acreditar porque, segundo todas as doutrinas religiosas, fostes Tu o criador do Homem e deste-lhe a capacidade para desenvolver em si o sentido do humanismo.

Senhor, ilumina a mente dos meus concidadãos para que eles possam ver que a doutrina política materialista é esta e não outras que eles, os governantes, acusam de colectivistas para poderem ser eles os individualistas e roubarem-nos o pão e a dignidade. Ilumina os Portugueses para que, no momento próprio, saibam escolher entre os verdadeiros humanistas e os falsos.

Meu Deus, eu que não tenho por hábito rezar, deixo-Te aqui a minha prece matinal de hoje: permite que o humanismo prevaleça sobre a tirania do açambarcamento financeiro dos banqueiros e dos seus serventuários que nos governam.

07.05.13

A cegueira absurda


Luís Alves de Fraga

 

O Governo anuncia cortes de milhares de postos de trabalho na função pública. Exactamente assim: cortes nos efectivos! Não se especificam os sectores da Administração Pública onde se vão cortar postos de trabalho… É qualquer coisa como atirar uma granada para o meio de uma multidão e dizer que vão morrer umas centenas de pessoas, mas não se sabe quem e muito menos quem vai só ficar ferido! Isto não é governar! Isto é praticar genocídio! Isto é dar lugar ao crime em vez de permitir a boa gestão! Isto é desconsiderar os seres humanos em nome do orçamento, da finança, da dívida, do raio que os parta!

 

Se há que reduzir as despesas públicas, então, um Governo digno desse nome traçaria políticas que apontariam à dispensa de trabalhadores previamente seleccionados por ministérios e, dentro destes, por sectores funcionais. Assim feitos, os cortes obedeceriam a um plano, a uma orientação, a uma mudança de objectivos. Todos saberíamos que, por exemplo, se iria reduzir o esforço no ensino básico, no ensino secundário e no ensino superior, no Ministério das Finanças, através de uma redistribuição geográfica das respectivas repartições de tesouraria, nos Negócios Estrangeiros, devido ao encerramento de representações diplomáticas em diversos países do mundo, no Ministério da Justiça, em consequência da transferência e desactivação de tribunais, etc. Assim, um corte na quantidade de trabalhadores correspondia a uma análise ponderada das necessidades do aparelho do Estado, já que este, se deixado entregue a si mesmo, tende para o aumento exagerado de departamentos – é um facto sabido e estudado há mais de cinquenta anos.

 

Não foi nada disto que o Governo actual fez ou vai fazer!

Estabeleceu um número em função do gasto financeiro e, depois, logo se verá onde e como se vão mandar para o desemprego os milhares de trabalhadores dispensados. Isso é o que menos interessa! E, para cúmulo da prova do desnorte, até se avança com mais um pormenor bem elucidativo: vai aumentar-se a carga de trabalho para quarenta horas semanais!

Senhores, isto é impróprio de alunos do primeiro ano de um qualquer curso de gestão de recursos humanos! Isto é uma cavalidade! É um erro crasso de bradar aos céus! Não se aumentam as horas de trabalho só porque se reduz o número de trabalhadores! Não há, nem nunca houve, relação directa entre uma coisa e outra! Haverá serviços onde se justifica o acréscimo de horas de trabalho, tal como existirão outros onde, se calhar, ocorre exactamente o contrário! Só a vesgueira pode justificar uma decisão destas! Só a incompetência é capaz de tomar tais medidas. E se assim falo é porque tenho larga experiência de situações semelhantes em escala bem menor.

Ora, é exactamente falta de experiência de trabalho que os governantes, de um modo geral, têm. Eles são licenciados em Economia, mas nunca exerceram funções de “tarimba” onde se aprende com os erros, são professores, mas só se limitaram a leccionar e do mundo fora das universidades nada sabem, são licenciados em Direito que, no máximo, exercem advocacia e só desse ramo percebem alguma coisa; eles não fizeram cursos para gerir a coisa pública e de Ciência Política, de História, de Estratégia, de Relações Internacionais, de Sociologia, de Gestão pouco ou nada conhecem, para além dos rudimentos que qualquer estudante do ensino secundário domina. É que para isto de ser político não basta estar filiado num partido ou ter “cursado” a escolinha das “Jotas”! Eu, não sendo monárquico, reconheço a enorme preocupação que as Monarquias constitucionais, desde a segunda metade do século XIX, colocaram na educação dos príncipes herdeiros dos tronos: tinham de saber como se relacionar com o mundo da política de forma a exercerem a sua influência equilibradora junto dos governantes viessem eles de onde viessem e fossem eles das mais variadas cores políticas; vivendo em palácios, tinham de conhecer, pelo menos em teoria, os meandros dos tugúrios onde habitavam os mais humildes dos seus súbditos, pois só assim podiam dialogar com os responsáveis da governação. Ora, tomaram os nossos ministros terem metade da preparação política de alguns dos monarcas desta velha Europa! Se a tivessem, tinham mais capacidade para não fazer as asneiras que nos apresentam, tomando-nos por papalvos, por brutos e ignaros como eles são.

 

Temos de saber escolher quem queremos para nos governar e isso também exige cultura da nossa parte. Não podemos optar por este ou aquele partido político como quem opta por um clube de futebol. Está em causa e em jogo a nossa vida e o nosso bem-estar. Saibamos, pois, escolher, porque o voto não vincula, já que é um instrumento de selecção de momento… em qualquer nova eleição pode alterar-se a opção feita se dela não foram dignos os que antes escolhemos.