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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

20.08.06

A guerrilha, o terrorismo e Israel


Luís Alves de Fraga

 

Todos os militares profissionais sabem que é muito difícil um exército regular vencer uma guerrilha. Vem, pelo menos, do tempo dos Romanos esse conhecimento; nós vivemo-lo na Península, aquando da invasões francesas — foram os populares quem corroeu a vontade de combater dos homens de Napoleão —, os Britânicos sabem-no por experiência na Birmânia e no Quénia, os Franceses, na Indochina e na Argélia, os Americanos, na Coreia, no Afeganistão e, Portugal, em Angola, Guiné (especialmente Guiné) e Moçambique. Os EUA tiveram a sua quota parte de experiência mal aprendida no Vietname e, agora, no Iraque.

A guerrilha, e consequentemente o terrorismo, é o modo de os pobres fazerem a guerra. Numa certa perspectiva pode ser considerada uma forma cobarde de combater, mas os fracos têm direito à sua própria defesa. Quantos de nós, em garotos, quando confrontados com companheiros mais velhos e mais fortes, não evitámos a luta corpo-a-corpo para optarmos por um pontapé, uma pedrada, uma inesperada rasteira? Era a forma de entrar no conflito, tirando o melhor proveito da nossa fraqueza ou da nossa pouca idade. Cobardia? Eu diria antes, necessidade que aguça o engenho! Quando as condições bélicas se igualam ou equiparam a tendência é para o guerrilheiro usar dos métodos clássicos de combate. São os conhecidos patamares da luta de guerrilha. Os Portugueses estiveram à beira de viver essa experiência na Guiné, no final de 1973 e nos primeiros meses de 1974.

Fidel Castro mostrou ao mundo como se vencia uma guerra de guerrilha; Mao Tzé-Tung teorizou a guerra conduzida por guerrilheiros.

É necessário explicar que o terrorismo é uma fase primária do conflito de guerrilha; é como que o momento de preparação para a luta armada que se há-de seguir. É um tempo feio (como se na guerra houvesse tempos bonitos!), aparentemente desleal, quase repugnante em virtude das vítimas inocentes que provoca. Isto é certo, mas, olhando na perspectiva da guerrilha, é o único caminho para o adversário levar a sério as ameaças daqueles que normalmente despreza. A etapa do terrorismo tem como equivalente, na guerra clássica, a preparação do assalto levada a cabo pela artilharia e aviação antes do avanço da infantaria: pretende desmoralizar o adversário, destruir-lhe a força anímica.

O guerrilheiro diferencia-se do combatente dito clássico, porque o conflito está onde ele estiver, pois trava uma guerra essencialmente ideológica ao passo que a chamada convencional é um conflito de interesses em que os combatentes raramente o sentem como coisa sua.

Vem tudo isto a propósito dos ataques israelitas contra o Líbano; mais concretamente, contra uma milícia armada que pouco ou quase nada tem a ver com o Governo local (acoita-se por terras libanesas, porque ali encontrou entre uma parte da população o apoio necessário para subsistir e poder desencadear operações de combate contra um inimigo comum: Israel).

Os Judeus conseguiram ser os grandes vencedores regionais enquanto fizeram uma guerra regular contra Estados e exércitos também eles regulares. A virtude dos islamitas (não interessa se sunitas ou xiitas) foi desvincularem os Estados do conflito e transformá-lo numa guerrilha. Israel, só por isto, está condenado à derrota ou a uma negociação diplomática em inferioridade. A alternativa é desencadear-se na zona uma guerra nuclear a qual sabe-se como começa, mas desconhece-se como acaba. E o problema fundamental é que hoje o conflito é, como já disse, meramente ideológico. Os Muçulmanos combatem por uma causa em que acreditam efectivamente; os Israelitas combatem pela sobrevivência do seu Estado, mas não da sua cultura e menos ainda pela da sua religião, pois ambas subsistiram milhares de anos sem precisarem de um território.

Quando na sequência do 11 de Setembro de 2001, os EUA tomaram a decisão de invadir o Iraque e quebrar o equilíbrio instável do Médio Oriente numa luta inicialmente contra um Estado, mas que tinha como pano de fundo a perseguição ao terrorismo (como antes afirmei, uma das primeiras fases da guerra de guerrilha), abriram a caixa de Pandora da luta sem quartel e que vão perder à custa de vítimas inocentes e de soldados que já nem sabem os motivos que os levaram à guerra. E tudo isto, por uma razão, também ela, muito simples: o Islão condena um certo tipo de «Ocidente». Um «Ocidente» imperial, despótico, explorador, gerador de desigualdades e, acima de tudo, já completamente amoral. O Islão bate-se por valores do foro espiritual; o «Ocidente», que ele guerreia, bate-se por valores materiais sem fundamento moral.

O neo-capitalismo, como vitória sobre o marxismo gerou, dialecticamente, uma síntese que se pode enunciar pelo enfrentamento de duas novas teses: a defesa da cultura amoral e a defesa da cultura moral (islâmica).

Se os governantes do mundo «Ocidental» não perceberem isto e não procurarem uma solução reformista do seu próprio sistema estão a votar a sociedade de consumo, que nos devora, a um triste desaparecimento às mãos de uma sociedade que se imporá por valores estranhos, exóticos e quase reprováveis. E nem se espere auxílio do Oriente (China) porque, também eles possuem sistemas sócio-culturais que se afastam diametralmente dos que vão caracterizando o «nosso Ocidente».